As mulheres trabalham mais porque as tarefas domésticas ainda são uma
tarefa "delas", e no emprego chegam a ganhar menos 30 por cento em
cargos idênticos aos deles.
O dia de trabalho das mulheres começa normalmente mais cedo
e termina invariavelmente mais tarde. "Quando olhamos para os gráficos de
tempo de trabalho pago e não pago, as mulheres trabalham em média mais 16 horas
por semana do que os homens", contou à Lusa Natividade Coelho, presidente
da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a propósito do
Dia Internacional da Mulher, que se assinala esta segunda-feira.
"Num mercado de trabalho sem horários, as mulheres são
as mais penalizadas porque são as responsáveis por cuidar dos filhos e das
tarefas domésticas", lembrou a especialista em direitos de género, Regina
Tavares da Silva. Apesar de serem maioria - são 5,4 milhões contra 5,1 milhões
de homens - continuam a ser subjugadas. Nas escolas e universidades há mais
alunas e a diferença entre doutorados é cada vez mais ténue.
"Mesmo sendo elas mais qualificadas não têm as mesmas
possibilidades de acesso e sucesso no mundo do trabalho", lamentou Regina
Tavares da Silva. A presidente da CITE acrescenta mais informações ao cenário
já preocupante: "O número de mulheres que ascendem aos lugares de topo é
muito menor do que o número de homens".
E, quando ocupam os mesmos postos, não são raros os casos de
discriminação salarial. De acordo com dados da CITE, as diferenças rondam os
oito por cento nas profissões indiferenciadas, mas "nos cargos de topo e
lugares decisórios verifica-se mais de 30 por cento de diferença salarial entre
homens e mulheres", contou Natividade Coelho. "O que persiste na sociedade portuguesa e sobretudo no
mundo laboral é muito claramente a noção de que os homens são encarados como
produtores e as mulheres como reprodutoras", disse a presidente da
Comissão.
A imagem da mulher como alguém que poderá ter de se ausentar
do trabalho para ficar períodos mais longos em casa para tratar dos filhos ou
que tem um horário fixo de saída do emprego para ir buscar as crianças à escola
agravam o perigo de discriminação no mundo laboral. No entanto, a situação poderá mudar. A ideia do novo diploma
da parentalidade, que entrou em vigor em meados do ano passado, é a de que
homens permaneçam mais tempo em casa com os filhos recém-nascidos.
As consequências desta mudança já se começam a sentir:
"Já vamos tendo, quer emissão de pareceres, quer queixas relativamente ao
exercício da paternidade", contou à Lusa a presidente da CITE. No entanto, "no conjunto, em números redondos, dos
pareceres e queixas apenas uns dez por cento são relativos a homens".
Todos os outros são relativos a problemas envolvendo mulheres grávidas ou recém
mães.
"O que nós desejamos é que os homens não sejam
estigmatizados quando optam por partilhar a licença com a progenitora",
defendeu Natividade Coelho, lembrando que continuam a ser as mulheres quem mais
usufrui deste direito. Para a presidente da CITE, os homens querem estar mais
presentes na vida familiar, mas em muitos casos a taxa de partilha de licença
não é mais elevada porque "poderá haver um estigma dentro das próprias
empresas, em que essa partilha não é bem aceite".
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