É
25 de Abril, aquele dia em que findou a ditadura, ou então é apenas
feriado. Os feriados, mais do que
dias de comemorações e homenagens, são feriados, e um feriado para
a maioria das pessoas, é não
trabalhar, não apenas por não trabalhar, nem por
serem uma cambada de mandrionas,
mas porque feriado é como um dia folga, um dia de descanso.
Um
descanso físico e psicológico
do trabalho, do serem uma máquina inerte, um organismo sem vontade
de criar, por serem
exploradas, pelo facto do seu trabalho por melhor que seja, pelo
tempo que seja, não melhora
as suas condições nem das suas comunidades e que apenas enriquece
os que se "mexiam" bem.
Então, têm o feriado para descansar. E como é bom descansar!
Ter
tempo para a família e para elas
próprias, isto assim que despachem aquelas compras que ainda não
houve tempo para fazer, assim
que tratem daquele problema no carro, assim que tratem daquela
questão do empréstimo, assim
que tratem da casa, dos filhos e assim que despachem tudo o que
falta, porque amanhã é dia de
trabalho. Assim descansam e gozam a vida, da mesma forma que lhes é
pago apenas o mínimo para
sobreviverem e poderem continuar a serem exploradas. Contra esta
exploração ao longo dos tempos,
os trabalhadores e as trabalhadoras lutam e aspiram por uma mudança
social. Mas não foi isso
o 25 de Abril, o dia em que essa mudança social ia acontecer?
A
25 de Abril de 1974, os militares cansados do longo caminho que a
guerra colonial tomava, chefiados
pelos jovens Capitães, fartos também do conformismo da alta
hierarquia militar, estabelecem
um golpe de estado, acabando com uma ditadura de 41 anos. E a este
golpe, juntou-se um
povo descontente com a guerra, com a política do estado novo, e com
as desigualdades sociais, iniciando-se
assim uma revolução popular, que visava uma sociedade socialista.
A
vontade do povo por
mudança era de tal maneira notória na manifestação do 1 de Maio
de 1974, que reuniu cerca de meio
milhão de pessoas, e nas várias Campanhas de Dinamização Cultural
e Acção Cívica do MFA, que
até as alas direitistas da sociedade se viram obrigadas a
constituírem-se como sociais-democratas e centristas e a proclamarem
também eles uma vontade por uma sociedade sem classes.
Trinta
e seis anos passados da Revolução de Abril e no centenário da
Republica, estaremos ainda à procura
do socialismo? E se ainda estamos à procura do socialismo saberemos
nós ou as futuras gerações
o que é o socialismo? Hoje esse caminho vê-se que não foi
trilhado, perdido numa bifurcação
qualquer. Neste decorrer, o significado socialismo foi-se
deteriorando, agarrando-se a uma
forma sem conteúdo, e as gerações vindouras deixarão de ouvir o
Abril pelos actores desses dias,
ficando essa transmissão e aprendizagem nos livros de história.
A
esquerda refez-se para responder
à nova realidade sem nunca esquecer o objectivo do socialismo. A
direita também o fez, sem
esquecer que nunca quis uma sociedade socialista, mas já sem
precisar de o parecer, assumindo até
publicamente o objectivo da irradiação dessa meta. E então hoje é
25 de Abril e é feriado, o povo
não descansa mas esquece.
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