As mudanças existem mas lentas: as mulheres não conhecem nem usufruem dos direitos que têm ao seu alcance de forma a não continuarem submissas a situações de injustiça; a nível jurídico verifica-se uma grande discrepância entre a lei e a sua aplicação; e a polícia continua maioritariamente a remeter os casos de violência doméstica para situações do foro privado e familiar. De facto foi o remeter este tipo de casos para o domínio privado que, durante muito tempo afastou a violência sobre as mulheres do campo legal e de qualquer influência das instituições.

A família nas nossas sociedades é um sistema desigual e o casal é assimétrico em termos de poder. Mas, a análise desta problemática não pode ser feita apenas ao nível da família e da relação homem-mulher limitada ao espaço doméstico. Esta hierarquia de género tem como fundo todo um enquadramento social mais abrangente que condiciona e constrange a relação conjugal e familiar. O papel da mulher na sociedade enquanto indivíduo no espaço público continua a ser pautado pela distribuição desigual de poder e pelo posicionamento discriminatório da mulher na sociedade. Desta forma é necessária uma democratização no domínio público para que se forneçam condições essenciais para a democratização das relações pessoais.