Início arrow Agenda arrow Discurso do centenário da Republica na AM de Vila Real
Bem Vind@s!
Início
Noticias
Agenda
Opinião
Documentos
Eleições
Ligações
Sugestões e Denúncias
adere.jpg
 
tv_esquerda
 
 







Discurso do centenário da Republica na AM de Vila Real Imprimir e-mail
05-Out-2010

O final do século XIX e o início do século XX são marcados por profundas transformações políticas, económicas e sociais que vêm reconfigurar a face da Europa mas também de Portugal. A industrialização, a proletarização, a terciarização, a urbanização, a entrada das massas na política, a difusão do republicanismo e do socialismo contribuem para o desenvolvimento de novas sensibilidades políticas e novos grupos sociais portadores de novas aspirações e reivindicações. Incapaz de integrar e dar resposta às aspirações destes novos grupos sociopolíticos, o regime monárquico vive um processo de crise económica, financeira e política. De facto, são os republicanos que lideram a contestação e a propaganda e capitalizam o descontentamento face à monarquia, explorando habilmente o nacionalismo, a humilhação, o sobressalto patriótico e a crise económica e financeira.

A monarquia constitucional revela-se incapaz de se auto-reformar, de se abrir e integrar os extremos e de, pelo menos, assegurar o efectivo apoio das várias facções e clientelas monárquicas. Minada pelo caciquismo e o rotativismo, os últimos anos da monarquia são marcados por leis eleitorais mais restritivas e pelo recuo da percentagem de cidadãos com direitos políticos, traduzindo as manipulações tendentes a reduzir ou anular o eleitorado urbano potencialmente republicano.

O período final da monarquia é de crispação política, de intensa actividade, agitação e propaganda republicana que se prepara para assaltar o poder. O republicanismo tornara-se um discurso crescentemente aceite nos principais meios urbanos e apresentava-se cada vez mais como uma alternativa real à monarquia constitucional, contando já com uma importante base social urbana de apoio, activamente disposta a trabalhar pela vitória da República e uma significativa implantação nos meios políticos, operários e associativos da sociedade lisboeta.

Num país analfabeto, rural, atrasado, católico e que no essencial não era republicano, a Lisboa republicana, operária e revolucionária, sinal da macrocefalia de Portugal, constitui-se como o elemento chave, o ninho da conspiração republicana que instaurará a República a 5 de Outubro de 1910, numa Europa esmagadoramente monárquica.

 

A jovem República acaba por se constituir como a derradeira tentativa do sistema liberal se reformar, ultrapassada que estava a sua fórmula monárquica. No entanto, os primeiros anos do republicanismo, marcados pela hegemonia do Partido Republicano Português de Afonso Costa, são complexos e turbulentos. Desde logo por se tratar de um fenómeno que em Portugal era essencialmente urbano e, sobretudo lisboeta, num país profundamente rural e católico, sendo legítimo falar numa República política, geográfica e socialmente cercada. Depois, porque desde o início entra em rota de colisão com a Igreja católica, num duro braço-de-ferro simbolizado pela Lei de Separação do Estado e das Igrejas. Numa situação de crescente tensão política e social, destacando-se a forte dinâmica grevista, e de instabilidade política e governativa, a República traduziu-se, apesar de tudo, numa importante modernização cívica, consubstanciada na liberdade de consciência, na laicização do Estado, no registo civil obrigatório e no ensino obrigatório, gratuito e laico.

O republicanismo, enquanto filosofia da história e projecto ético, intelectual e cultural, imbuído do positivismo iluminista, da crença no progresso e na evolução da Humanidade, e de uma ética social e comunitária que confere um papel central do Estado e assenta na ideia de prevalência do interesse geral sobre os interesses particulares, de bem comum, de soberania popular e de serviço público, não se traduzira numa concretização política, económica e social susceptível de garantir uma efectiva transformação, democratização e reforma estrutural do país. A experiência da I Republica está, todavia, muito longe da ideia de caos construída para legitimar e glorificar a “ordem” assegurada pelo Estado Novo, ele próprio um interregno dos valores republicanos plenos ao não assegurar o interesse geral, capitulando aos interesses de uma oligarquia dominante e conservadora e tudo fazendo para impedir a soberania popular.

A actual democracia portuguesa saída da Revolução de Abril é herdeira legítima de uma fibra republicana, de uma memória identitária forjada na combustão de um ideário que se foi afirmando até ser poder e quando poder se cumpriu e incumpriu, mas se manteve enquanto corpus ideológico, enquanto património político que atravessou todo o século XX português.

O republicanismo não está em crise, o que está em crise é o sistema socioeconómico que vivemos há vários séculos, o Capitalismo. O espírito republicano definha a cada despedimento, a cada precarização, a cada pessoa dispensada da sociedade. Esta crise diz-nos, para quem queira ouvir, diz-nos que não há lugar para todos e para todas, que há pessoas a mais, que o lucro justifica todo este desemprego, toda esta precariedade, toda esta incerteza. As oligarquias dominantes não sabem, nem nunca souberam, conter a sua gula. Nunca como hoje o fosso entre os mais ricos e os mais pobres foi tão grande. Como na monarquia moribunda, a caciquismo e rotativismo das elites nos dias de hoje mantêm-se como uma das principais doenças democráticas do nosso país.

A Republica nasceu irreverente, conturbada, confusa, violenta, esperançosa, nasceu com uma sede enorme de se educar, de se afirmar, de se prover de saúde, tendo sempre na sua génese a inclusão, não deixar ninguém de fora. 100 anos depois da transformação republicana do país, é este o repto a que nós, seus herdeiros e herdeiras, temos agora que dar resposta: ou a república é digna do seu nome e repudia na prática a exclusão dos de baixo ou fica uma coisa exígua e irrelevante.

No início do próximo ano seremos chamados a decidir quem ocupará a presidência da Republica por mais 5 anos. Ao contrário da monarquia, nada está decidido quanto ao mais alto cargo da nação, nada poderá impedir a decisão popular.

A quem lutou por dar voz ao povo na decisão quanto ao seu Presidente, a mais emocionada homenagem do Bloco de Esquerda.

Viva a Republica !
 
< Artigo anterior   Artigo seguinte >
© 2024 Site Distrital de Vila Real - Bloco de Esquerda
Joomla! is Free Software released under the GNU/GPL License.