O Alto Douro vive um amargo momento
fruto de uma moderna filoxera, a filoxera da falta de visão por uma
política de defesa das funções públicas da Casa do Douro. O vírus
ataca as fundações da maior e mais prestigiada organização
duriense, retira-lhe poderes e competências, sitia os funcionários
com o garrote dos salários em atraso, exaspera os seus líderes,
deprime sócios que não vislumbram a saúde financeira, a
sustentabilidade e a revitalização da sua associação. O que está
em jogo nos socalcos da Região Demarcada não é só o mercado de
vinho e a concorrência global, a qualidade do vinho e o controlo de
preços, mas todo o desenvolvimento regional de Trás-os-Montes, pois
o Alto Douro ainda é o seu grande pulmão económico. Os pequenos e
médios viticultores sustentam grande parte da economia. A asfixia
arquitectada pelas grandes cadeias de distribuição e pelas casas
exportadores, com o beneplácito de sucessivos governos durante duas
décadas, conduzirão o Douro à depressão a curto prazo. Vivemos
agora da mais fina reserva. O oxigénio financeiro rareia. Os
credores querem retornos. Faltam políticas públicas de emprego e
desenvolvimento. A fuga das mais valias fiscais das grandes empresas
e a calcificação dos apoios comunitários para os pequenos
viticultores vão provocar o rebentamento de uma bolha social.
Queremos novos mortórios e a depressão no próximo futuro para os
turistas degustarem por este rio acima!?
O Bloco de Esquerda está comprometido
em inverter esta sinistra marcha.
Esta região não pode continuar a ser
embalada pelos ratos do conto de Hamelin, que se metamorfoseiam ora
no PS ora no PSD. A Casa do Douro cometeu erros nos anos 90, e
assumiu-os; mas ambiciona uma solução. O governo é parte da
solução, no entanto tem a faca e queijo na mão. Não é ético
continuar a mencionar o mantra dos erros do passado. Os partidos da
maioria têm de se comportar desinteressadamente cessando os
raspanetes paternalistas à Casa do Douro. Optar pelo mais simples,
como na lei de Ocam, e apoiar a lei de resolução do Bloco de
Esquerda, para evitar a insolvência da Casa do Douro.
O projecto de lei que iremos apresentar
na Assembleia da República vai quebrar a toada de lamentos, e
alvoradas prometendo saúde financeira, mas com o escarnecedor
sorriso da chantagem. Os pontos fundamentais desta lei recomendam,
que a Casa do Douro detenha as competências e os respectivos meios
financeiros necessários à sua missão como instituição pública;
que no âmbito das propostas do governo estejam incluídos os meios
concretos para o desenrolar das tarefas públicas anexas aos
estatutos da Casa do Douro; que seja clarificada a grave incoerência
entre a lei orgânica do IVDP (Instituto do Vinho do Porto) e os
estatutos da Casa do Douro, no que respeita ao cadastro de
propriedades, onde se incluí a questão do pagamento de quotas dos
sócios alegadamente usurpado pelo IVDP, ao abrigo de atribuições
da ambivalente lei orgânica. E por último, mas essencial para
evitar a insolvência, o pagamento dos salários em atraso aos
trabalhadores através de uma transferência (obrigatória
instituicionalmente) do IVDP, com fundos adiantados, libertados
excepcionalmente do Plano de Resolução da Dívida da Casa do Douro.
Eis o problema, o governo só concorda
em libertar os fundos depois de terminar o processo de saneamento
económico. Soa a conversa de liquidatário. O plano do governo
pretende encapotadamente aniquilar a instituição. O anterior
ministro da agricultura, Jaime Silva, entendia que a Casa do Douro se
reconvertesse numa simples associação, anémica, silenciada,
descapitalizada e neutral face aos grandes negócios dos vinhos do
Porto; e consequentemente os seus associados transformados em
príncipes do nada, proletarizados à força; e precarizando também
deste modo todos os trabalhadores rurais. Restaria à Casa do Douro o
papel de Caritas. Dar sopas e cobertores. Narrar a grandiosidade do
passado. Pasme-se, ou não se surpreenda, a solução para o Douro,
segundo o PS é a liberalização do mercado de vinhos. É esta a
versão adaptada da sebenta neoliberal para o Alto Douro. Já o PSD,
com cadastro relativo ao acordo realizado no governo de Durão
Barroso, não transmite uma ideia positiva, não se compromete; é a
mudez absoluta.
Concorde-se ou não com esta lei, a
proposta que o deputado Pedro Soares apresentou no dia 18 de Dezembro
na Casa do Douro procura solucionar um problema em particular, a
questão salarial, e depois partir para uma solução global, que tem
como máximo objectivo o robustecimento da Casa do Douro e da suas
finanças. Há outras soluções, já enunciei a do governo, sem
qualquer viabilidade. É imperativo que a lei passe na Assembleia da
República, é a solução mais justa para o Douro, e que interessa
aos transmontanos. No entanto o caminho é estreito. A maioria tem
tudo para chumbar este projecto. Mas também vai ser confrontada com
a contradição. No ano passado foram levadas a plenário 4 propostas
para resolver este imbróglio. Acossado com o problema, o governo em
parceria com o PSD, atirou às urtigas as propostas. É extremamente
árduo negociar em condições de igualdade, que o diga a Casa do
Douro, ao longo de duas décadas. Apesar da desproporção de forças,
o Bloco de Esquerda vai saraivar o Parlamento com este tema.
O actual ministro da agricultura
garantiu numa proposta interministerial destrinçar esta crise a 23
de Junho de 2010. Troou o governo, mas nada mudou, a direcção da
Casa do Douro continua sem repto à proposta negocial que fez ao
executivo de Sócrates. Ora como foi esmiuçado anteriormente sabemos
o que pretende o governo PS. Liberalização.
Os transmontanos reconhecem que existe
uma voz a dar-lhes voz em S.Bento. Os transmontanos conhecem os
habituais paliativos dos partidos do centrão em relação a este
assunto. A defesa da Casa do Douro, é também o primado da
democracia sobre o neo-liberalismo, pois a esquerda socialista não
pode permitir que morra uma instituição democrática que representa
cerca de 40 mil viticultores. Procurem eles a democracia, procurem
eles a regulamentação do preço das uvas, procurem eles o estatuto
de sócios, procurem eles eleger-se e ser eleitos para os órgãos
sociais do IVDP... No IVDP não existe democracia económica ou
associativa, no IVDP existe o neo-liberalismo, a flutuação dos
mercados, a especulação, o corporativismo. O diagnóstico está
feito, é preciso salvar a Casa do Douro. Pacificar esta instituição,
é liberta-la para maiores objectivos de desenvolvimento social que a
nossa região necessita. Os transmontanos e alto durienses também
devem de espírito livre ou apartidário se for caso e realizar
acções de luta. Querem resignar o Douro, mas quem assinou isso em
nosso nome?
|