Os
protestos entraram na capital após um mês de motins. Assim
aconteceu a revolução de Jasmim.
No
dia 14 de janeiro, Ben Ali, presidente da Tunísia há 23 anos foge
para a Arabia Saudita, tendo a sua esposa levado num avião privado
1500 barras de ouro, após a fuga, o primeiro-ministro do partido
governamental RDC, cria um governo de unidade nacional que engloba
partidos da oposição, acto de generosidade discutível e convoca
eleições no prazo de 60 dias. A proposta até parecia ambiciosa,
democrática, mas a veloz proposta para acalmar a população não
mereceu confiança.
O
governo tentou pela via democrática a manutenção do poder, e
eleger um parlamento débil, um governo desbotado, e aclamar um ex
colega de Ben Ali presidente. A população, não permitiu que tal
acontecesse. A Tunísia presa a um regime autoritário, com uma
economia dominada pela família do presidente, abriga uma sociedade
com uma enorme pobreza, onde o desemprego brutaliza o dia a dia, 30%
dos jovens adultos não têm emprego, e regra geral os empregos são
comprados, sendo esse um exemplo maior da corrupção.
Os
recursos da Tunísia são fracos, não tem petróleo nem gás
natural, e sobrevive-se com a indústria do turismo. Todos os
indicadores económicos e sociais eram desfavoráveis a um bom
desfecho para Ben Ali, mas segundo os dados do FMI, e da OCDE, o país
era um exemplo da economia de mercado e da democracia. Os critérios
do FMI devem ser muito amplos e ao mesmo tempo ligeiros.
Todos
os países daquela região são um exemplo de violação dos direitos
humanos, por exemplo a Argélia onde impera o estado de emergência
desde 1992. A reacção do mundo árabe foi de preocupação pelo
efeito de contágio. A coragem dos Tunisinos retira o tapete da
legitimidade aos regimes autoritários, ou de democracia duvidosa na
região. Desde a era das independências, de Marrocos ao Egipto, o
caminho natural foi a ditadura dissimulada.
No
diálogo entre a EU, e o Magrebe, os direitos humanos foram renegados
pelo interesse económico puro e com a desculpa do fator cultural.
Esta revolução, se não fracassar, vai mudar essa relação, e terá
consequências na região. A Tunísia está a conhecer um tempo
difícil, depois do conflito social que começou na província, e da
sua resolução nas ruas. Os manifestantes após o fim do regime
eliminaram uma tentativa absurda de bloquear a democracia e as
reformas necessárias para sair do atoleiro social, com um acto de
insurreição e revolução. Exército e polícias quando não apoiam
os protestos são neutrais, preocupando-se com a segurança pública.
As
atenções estão viradas para o desenvolvimento, os motores da
economia na mão da família de Ben Ali, serão nacionalizados, pois
não estão em condições de voltarem a pertencer a uma dinastia
política. A comunicação social, libertada da censura robustece a
liberdade de expressão. Os exilados voltam, e os dissidentes foram
libertados das prisões.
A
população quer eliminar o partido do ex-presidente. É uma questão
de equilíbrio de forças, moral e de vitória social, mas que tem de
ser o mais pacífica possível. Desde a independência em 1957, que a
Tunísia vive sem um estado de direito verdadeiro. As democracia
ocidentais têm culpa ao criarem artificialmente no pós segunda
guerra mundial, o que designam hoje de estados falhados. Mas por
agora a palavra final pertence ao tunisinos, que possivelmente não
desejarão eleger dentro de 50 dias a sombra de Ben Ali.
A
gota de água desta revolução, foram as revelações da Wikileaks.
Os tunisinos não precisavam que ninguém lhes contasse isso, bastava
ver os preços do pão e dos combustíveis. A organização de Julian
Assange, publicou informações que despoletaram os protestos em
larga escala, até fora da Tunísia. O governo tentou travar
bloggers, que difundiam as informações da Wikileaks, mas a rede de
hackers Anonymous lançou um ataque duro aos sites do governo. As
tecnologias da informação desempenharam um papel decisivo na
mobilização do povo, especialmente os jovens.
Um
exilado político em Paris, Mohamed Ben Hazouz, chamou a esta
revolução, a primeira cyber revolução do mundo. Espero que esta
revolução seja o 25 de Abril da Tunísia, e consequentemente mude a
vida das sociedades do Magrebe. Desejo que a EU aproveite esta
oportunidade para abrir um novo caminho de políticas e de relações
de poder, e que também possibilite o enraizamento de um estado laico
e democrático na Tunísia, para afastar o fundamentalismo. Espero
que o povo Tunisino esteja em sintonia no mesmo diapasão, pois é
dos povos do Magrebe que mais se aproxima dos ideais democráticos.
A
queda deste regime, vem mostrar aos políticos europeus e portugueses
que procuram financiamento para a dívida que o convívio com
ditaduras não é para seguir como modelo de desenvolvimento, mas o
discurso oficial suaviza-se e a opinião pública não anda
correctamente informada. No médio oriente não se compram apenas
empréstimos.
In
Fórum Jovem 27.02.2011
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