 Na apresentação da candidatura às eleições europeias do Bloco de
Esquerda, o cabeça de lista Miguel Portas disse que "chegou a hora da
esquerda, porque é a esquerda que transforma o protesto em proposta",
adiantando medidas para combater a crise: "Não nos digam que não há
dinheiro para financiar a Europa Social. Basta ir buscá-lo aos
offshores e à taxação das transacções em bolsa, penalizando duramente a
especulação." O primeiro orador foi o médico Fernando Nobre, presidente
da Associação Médica Internacional (AMI), mandatário da candidatura.
Falaram em seguida Ulisses Garrido, da direcção da CGTP, que manifestou
o seu apoio à candidatura, Marisa Matias e Rui Tavares, respectivamente
2ª e 3º candidatos.
O tema dos
offshores esteve muito presente no discurso de Miguel Portas, na tarde
de segunda-feira, no teatro São Luís em Lisboa. O eurodeputado lembrou
que no dia anterior, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos,
reconhecera que "estaríamos bem melhores" sem offshores, para logo
acrescentar que o da Madeira, nem é tão mau porque, disse o ministro,
obedece a regras e é supervisionado.
"Supervisionado! Tenham caridade!", ironizou o eurodeputado do Bloco. E
recordou que por duas vezes, o Partido Socialista recusou na Assembleia
da República uma proposta do Bloco para o registo de todos os
movimentos de capitais para o exterior. "Para que, pelo menos, se possa
seguir o rastro do dinheiro. Não o aceitaram em Portugal, como esperam
consegui-lo na Europa?", questionou Miguel Portas. "Não insultem a
nossa inteligência. Com o que hoje sabemos do BCP, BPN e do BPP, como é
que alguém pode falar de supervisão em Portugal?", disse Miguel Portas.
O cabeça-de-lista do Bloco lembrou mais uma vez o episódio de Manuel
Fino e da Caixa Geral de Depósitos para exemplificar a falta de
supervisão:
"Como se pode falar de supervisão ou, vá lá, de cultura de supervisão,
quando o governo, que é accionista em nosso nome na caixa Geral de
Depósitos, acha que esta faz muito bem em financiar especuladores para
tomarem posições na concorrência e em seguida, ante a desvalorização
desses títulos, entende que parte deles deve ser readquirida a preços
acima do que valem?"
Miguel Portas respondeu ainda às acusações, vindas do Congresso do
Partido Socialista, de que o Bloco é um partido de protesto. "Como não,
quando vemos os de baixo sem defesa e os de cima perdoados e
protegidos? Claro que nos dirigimos aos descontentes. O
descontentamento é prova de inteligência. Indigente é o contentamento
ou a indiferença."
Mas, para Miguel Portas, o Bloco é a esquerda que transforma o protesto em proposta. E adiantou algumas:
- Um orçamento europeu que aposte na complementaridade dos serviços de
protecção social existentes ao nível de cada Estado e que instaure o
princípio do rendimento mínimo em toda a Europa.
- Políticas industriais e de investimento europeu na educação, na cultura e na saúde.
- Políticas europeias de investigação e de ambiente mais fortes do que as temos.
- Absoluta prioridade à luta contra a pobreza e o desemprego.
Para financiar estas propostas, ir buscar o dinheiro aos offshores e à
taxação das transacções em bolsa, penalizando duramente a especulação,
e emissão de dívida pública europeia, junto com o combate à evasão ao
IVA intra-comunitário, que o Tribunal de Contas europeu estima em 1 por
cento da riqueza produzida na União.
"Candidatamo-nos porque somos europeístas mas não somos nem queremos
ser eurocratas", explicou, por seu lado, Marisa Matias. "Porque
acreditamos que é possível e urgente um projecto europeu socialista e
de esquerda que responda com mais democracia às fragilidades e tibiezas
demonstradas pela União Europeia."
O tema da ausência de democracia na forma como têm sido conduzidos os
destinos da União Europeia esteve muito presente no discurso de Rui
Tavares. "Não serve adiar a democracia para depois do próximo tratado,
depois da próxima negociação, depois da próxima jogada de bastidores. É
preciso mais do que pensar em fazer a futura democracia europeia. É
preciso fazê-la. É preciso estar a fazê-la já, aqui e agora."
Leia também:
Texto de Rui Tavares explicando a sua decisão de aceitar a candidatura pelo Bloco de Esquerda
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