  
Há mais de 20 anos que o País urge
por colocar em prática o processo de Regionalização de Portugal
Continental. As assimetrias entre Norte e Sul, Litoral e Interior têm
vindo a intensificar-se nos últimos anos, em particular as últimas,
confrontando as regiões fronteiriças com Espanha com graves
problemas de desenvolvimento, envelhecimento e desertificação.
O Bloco de Esquerda tem tido uma
politica clara neste sentido. Francisco Louçã já se pronunciou
diversas vezes sobre a sistematização da destruição do emprego
nas regiões do interior,a escassez de alternativas e apontou a
regionalização como o caminho para a justiça na economia no
combate às assimetrias e na criação de emprego.
É preciso por tanto defender um mapa
de regiões atento a estas diferenças. A defesa das cinco regiões
correspondentes com as CCDR´s descentraliza e regionaliza o Sul e o
Norte, mas esquece as disparidades de natureza económica, social e
populacional entre Litoral e o Interior que poderão, dentro de
algumas das cinco regiões, criar desequilíbrios extremamente
perniciosos no que toca à representação institucional e à
distribuição de fundos financeiros.
Nos últimos anos a crise económica
tem servido de desculpa para o desinvestimento destas regiões. O
défice orçamental tem sido o argumento para o encerramento de
escolas e de serviços de saúde, e as ilusões dos investimentos
publico-privados em auto-estradas e barragens têm sido a desculpa
para o desinvestimento na redeferroviária portuguesa e na destruição
do património ambiental e cultural de áreas menos povoadas e que
requerem uma maior sensibilidade, como são o caso dos parques
naturais e povoações isoladas.
Com o passar dos anos, as populações
continuam sem alternativas que não passem pela migração para as
zonas litorais ou a emigração. Mas de toda a população há um
sector que mais sofre com este adiar, as Mulheres.
Porque são as Mulheres do Interior que
têm de se sujeitar a dar à Luz numa auto-estrada sem qualquer
assistência médica especializada ou cuidados em caso de complicação
no parto. Porque continuam a ter de ser as Mulheres do Interior a
acordar horas mais cedo para levar os seus filhos e filhas à nova
escola uma vez que a mais próxima fechou. Porque continuam a ser as
Mulheres do Interior as primeiras a ser despedidas quando as fábricas
fecham ou a serem aquelas que mais se enquadram no sistema de falso
recibo verde. Porque no Interior continuam a ser as Mulheres a
abdicar dos estudos em nome da família e em nome desta continua a
crescer, paralelamente à crise, o número de agressões domésticas
contra as Mulheres. Porque no Interior as Mulheres trabalham tanto,
ou mais na terra, que os Homens mas continuam a ter dificuldades de
arrendamento e/ou aquisição de terras. A feminização da
agricultura é uma realidade do país que não resulta da livre
escolha das Mulheres, mas que não deve ser vista como
desprestigiante. Muito pelo contrário, a feminização da
agricultura deve ser um motor de criação de novas formas de
organização feminina, de novas formas de organização da
agricultura e da luta emancipatória das Mulheres.
Por outro lado a feminização da
pobreza é uma realidade do país que se agrava no seu Interior. É
por isso que o seu combate passa por uma regionalização atenta às
diferenças económicas, sociais, educativas, culturais e ambientais
de cada uma das regiões. É urgente que o Bloco percepcione as
idiossincrasias actuais das várias regiões que compõem o nosso
território e se comprometa com elas.
É importante que a politica de
redistribuição do Bloco de Esquerda esteja atento às questões de
género e é urgente que as Mulheres do Bloco de Esquerda se façam
ouvir nesse sentido. Porque o feminismo passa também pela igualdade
de oportunidades e salários entre Mulheres do Litoral e do Interior.
É ainda importante desvendar falsas premissas e receios de que as
regiões do Interior podem ser novos 'reinados ao estilo Alberto João
Jardim' devido ao seu conservadorismo crónico. As regiões e as
Mulheres do Interior têm direito a decidir o seu próprio destino,
tal como acontece nas zonas mais populosas do país. Além de que, um
maior poder para decidir, pode significar maior participação nos
processos decisórios.
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