Na passada sexta-feira, dia 30 de Setembro, tive a oportunidade de representar o Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Vila Real, no entanto, ainda durante a leitura, análise e preparação dos pontos em discussão referentes à dita sessão ordinária fiquei surpreendido por considerações efectuadas pelo executivo camarário em quatro dos dez pontos.
Acontece que o executivo camarário aparenta pensar que a menção ao Memorando de Entendimento entre o Governo português e a troika consegue justificar políticas municipais não obstante da situação.
Nos pontos relativos à fixação do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI),
Taxa Municipal de Direitos de Passagem (TMDP) e da Taxa de Derrama,
existe uma quase perfeita clonagem de texto salvaguardando algumas
palavras adicionadas no início da consideração sobre a TMDP. No entanto
não é este facto que me causa espanto: é o facto de o próprio executivo
referir que as verbas municipais sofreram um corte no Orçamento de
Estado do ano transacto e de seguinte afirmar que a consideração também é
efectuada à conta do Memorando da Troika prever mais cortes. Isto é,
apesar de a fixação das taxas já estar prevista nos parâmetros da Lei
portuguesa, o executivo justifica a fixação da taxa com documentos não
relacionados. Sabemos muito bem a razão: justificar austeridade
desnecessária e lavar as mãos de responsabilidade.
No caso do IMI, fixa-se no máximo legal porque os cidadãos e as cidadãs
não possuem alternativas de habitação que não passem pela compra, dado
que o país não possui um mercado de arrendamento real. Quando tanto são
arrendamentos efectuados por baixo da mesa, sem garantia da pessoa que
procura casa poder ser honesta na sua declaração de rendimentos,
correndo o risco de se tornar uma vigarista sem o pretender mas por
necessidade de residência. Mas o que importa é a Câmara tirar dividendos
da situação.
A TMDP, que deveria recair sobre os custos operacionais das empresas que
oferecem redes e serviços de comunicação electrónica em lugares
públicos, como refere a descrição da taxa, é extorquida aos munícipes
dado que como estas empresas tem vindo a ausentar-se do pagamento da
dita, colocam-se os contribuintes a suportá-la. Mas o que importa é a
Câmara tirar dividendos da situação.
A Taxa de Derrama que deveria efectuar uma discriminação positiva das
empresas com volume de negócios inferior a 150.000€, isto é as
pequenas/médias empresas existentes no concelho (muitas delas negócios
familiares), é cobrada igual a grandes e a pequenos. Ironia das ironias,
que o PSD afirme na AM que quer criar condições de fixação de novas
empresas em Vila Real e menos de dez minutos depois (muito
literalmente), aprove este saque que certamente impede a iniciativa
empresarial que tanto prega e apela da parte dos cidadãos e cidadãs. Mas
o que importa é a Câmara tirar dividendos da situação.
Finalmente, mas sem dúvida não menos importante, a alteração do Mapa de
Pessoal que prevê duas contratações em matéria de pessoal. Ora,
efectua-se a seguinte consideração, justamente no início da
argumentação: “Considerando que a Lei nº 12-A/2010, de 30 de Junho (PEC
II) veio aprovar um conjunto de medidas adicionais de consolidação
orçamental, nomeadamente as de controlo de recrutamento de trabalhadores
na Administração Pública, e que o “Memorando de Entendimento” entre o
Governo português o FMI, o BCE e a EU prevê mais restrições em matéria
de pessoal: (…)” e no final propõe-se “a alteração do Mapa de Pessoal do
município, através da criação dos seguintes lugares: (…)”... Há uma
Contradição, não? Justificar com cortes de pessoal… a contratação de
novo pessoal…
Não há prova melhor do que esta para ilustrar o fanatismo e obsessão do
PSD com a troika do que esta! Mais: inacreditavelmente este acaba por
ser o único argumento que justifica este ponto! E ainda por cima o
executivo não apresenta as funções e serviços que necessitam da
contratação do Engenheiro Civil e da Educadora de Infância em causa! O
Bloco não é contra novas contratações, a menos que não sejam devidamente
justificadas como é o caso. Para mais, o presidente da câmara e o grupo
parlamentar do PSD acabaram dando uma justificação adicional na
Assembleia, de que estes contratos serviriam para reduzir a precariedade
destes indivíduos, que aparentemente já teriam cumprido estes serviços
na Câmara e iriam ficar desempregados. No entanto, o texto refere
claramente que estes novos contratos são igualmente por Tempo
Determinado, isto é, continuam na sua situação de precariedade e quando
findar o tempo estipulado encontram-se na mesma situação que estavam até
a aprovação deste ponto!
Ridículo e ilógico.
O fetichismo troikista tem de acabar e apelo aos cidadãos e cidadãs que
compreendam que não só este memorando não é necessário para tirar o país
da situação actual, muito pelo contrário apenas a piorará como foram os
casos da Grécia e Irlanda, como está a ser utilizado como desculpa para
tudo e nada, de forma a desresponsabilizar o PSD, CDS e PS.
Como tal é necessário que dia 15 de Outubro, próximo Sábado, adiramos às
manifestações previstas e mostrar que não acataremos responsabilidades
que não são as nossas.
À Luta!
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