Desde sempre que a
história de Portugal tem sido marcada pela monumentalidade associada
com períodos de estabilidade política ou riqueza proveniente das
trocas comerciais. Foi assim que surgiram os nossos mosteiros e
palácios mais paradigmáticos, onde as trocas com a Índia e o ouro
do Brasil permitiram dar azo aos sonhos de poder dos monarcas
absolutistas da altura, desejando deixar o seu nome impresso na
história para todo o sempre, perpetuado através de construções
opulentas, canalizando para aí toda a riqueza, enquanto a plebe
procurava apenas sobreviver.
Passaram-se muitos,
muitos séculos, houve transformações civilizacionais a todos os
níveis mas, manteve-se o desejo de cada vaga de governantes em
deixar perpetuado o seu nome através duma política
“desenvolvimentista” de cunho pessoal. Salazar criou através do
Estado Novo toda uma nova arquitetura, com o apoio de António Ferro,
cuja melhor expressão foi dirigida para a capital do Império,
através classicismo presente nas Avenidas Novas, no Estádio
Nacional, etc., culminada ainda na Exposição do Mundo Português,
onde a par de grandes espaços para paradas, glorificando a gesta dos
nossos heróis, se chegou ao ponto de transplantar aldeias inteiras
provenientes das diversas colónias para Belém, para que o povo
apreciasse os indígenas locais (depois abandonados à fome nas ruas
de Lisboa, mal desceu o pano do espetáculo…).
Mas veio a democracia,
novos governantes, mas sempre se manteve o insanável desejo em
deixar mais “monumentos” para as que gerações vindouras
viessem a conhecer o papel dos novos líderes. Foi assim que Cavaco
criou uma rede de auto-estradas apoiado em Ferreira do Amaral (o
Duarte Pacheco dos novos tempos), começando a votar ao abandono o
transporte ferroviário (bem menos emblemático…), mas foi também
o tempo do Centro Cultural de Belém (atualmente convertido em sala
de exposições do semi-analfabeto Berardo) e houve muitas outras
fitas cortadas e muitos salamaleques e sempre muitos discursos, de
preferência antes das eleições, muitas vezes patrocinados com os
fundos comunitários, continuando a prolífica atividade do venerando
Almirante Tomás. Saiu de cena o Cavaco, entra no palco mediático o
Guterres e já começava a sobressair o nosso Sócrates que continuou
a festa. Foi a época dos estádios do Euro 2004 (sabemos o resultado
não é?, mas ainda no ano passado nos candidatámos ao mundial…),
da magnífica invenção das SCUTS (soava tão bem fazer estradas
“sem custos para o utilizador…” e já vinha aí o TGV - apesar
só termos praticamente uma só ligação em condições, o eixo
Braga-Faro - a nova ponte sobre o Tejo, e mais o novo aeroporto de
Lisboa e sei lá que mais…
Era tudo tão bom, tão
bom, mas que aborrecimento, esta política originou o aumento
exponencial do défice orçamental, impulsionado pelos agiotas
bancários e pelas parcerias público-privadas, o que obrigou a
empacotar muitos projetos, embora outros continuem. É o caso desta
nossa A4, porque afinal Bragança era a única capital de distrito
que não era “banhada” por uma auto-estrada e no fim os
utilizadores do interior vão ter de fazer um pé-de-meia de cada vez
que quiserem ir ao litoral. Na verdade, a sensação é que desde há
muito temos sido governados pelos políticos do Bloco Central que são
meros intermediários dos grandes negócios. Uns poucos ganharam
muito. Estamos em crise? Esses poucos podem investir agora nos novos
mercados, desde o Brasil a Angola. A festa acabou e ficamos cá nós
com o défice, o desemprego, a troika, o Passos Coelho e o Portas (e
este ainda teve tempo para comprar uns submarinos…).
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