A manifestação
internacional ocorrida no passado dia 15 de Outubro foi um
acontecimento estrondoso. Contudo, o que sucede e continua a suceder
é ainda mais extraordinário, particularmente em Londres, onde o
Movimento Occupy London Stock Exchange está acampado na Praça São
Paulo.
Contrariamente aos que as
elites britânicas pensavam, o acampamento continua e está até a
expandir-se para uma outra praça nas redondezas. Não obstante o
plano incial (ocupação da praça onde fica a Bolsa de Londres) não
ter sido concretizado devido à actuação da polícia, os objectivos
estão a ser atingidos: questionar o sistema, questionar as divisões
sociais e, sobretudo, trazer as pessoas para a praça pública para
debaterem o estado actual da política. O problema para as
autoridades é que os manifestantes estão a comportar-se de forma
exemplar, cumprem-se todas as regras necessárias para manter
elevados níveis de higiene e bem-estar para todo o espaço
envolvente; não são permitidas drogas ou alcóol; numa palavra,
cooperação com as autoridades na manutenção do espaço envolvente
mesmo em alturas de grande afluência quando ocorrem as assembleias
populares.
As pressões para que
saíssem começaram a surgir e vieram do sítio mais inesperado: a
própria Catedral de São Paulo. Esta decidiu cerrar as portas
alegando que era impossível, devido à ocupação da praça, que os
visitantes (turistas ou não) entrarem normalmente na igreja. Ora,
segundo testemunhos dos próprios visitantes, os ocupas traçaram uma
linha para além da qual estavam proibidas tendas deixando um amplo
espaço para se entrar no edifício.
Seguiram-se uma série de
polémicas entre as quais destacamos a notícia de que a maior parte
dos manifestantes não ocupava as tendas à noite, indo para casa
pernoitar. Um tentativa de escândalo que durou um par dias na
imprensa. Mas os acontecimentos mais significativos são sem dúvidas
as demissões dentro da Igreja Anglicana e as alegações de que a
Fundação para a Catedral teria ligações à City de Londres, isto
é, o centro financeiro do Reino Unido.
As demissões são
importantes na medida em que mostram que, apesar do Arcebispo da
Cantuária ter mantido um silêncio ensurdecedor, nem todos aceitam o
pacto entre o clero e a aristocracia em detrimento do povo e rejeitam
a hipocrisia daqueles que pregam uma coisa e praticam outra.
As ligações entre a
City e a Fundação não são de estranhar. Parece sempre bem que um
capitalista financeiro que especula e explora, faça a sua
caridadezinha para se manter tudo conforme está. O papel da Igreja
Anglicana foi bastante conveniente, evitou que City se tornasse ainda
mais o inimigo a abater ao accionar processos judiciais para a
expulsão dos manifestantes.
A Igreja Anglicana
comprou uma guerra que podia ter evitado se tivesse escolhido o lado
certo da crise. Os manifestantes ainda estão a ocupar e autoridades
não sabem o que fazer. A City está agora considerar uma
possibilidade, um acordo com os manifestantes: se saírem até ao fim
do ano, não haverão processos judiciais.
Pela minha parte, espero
sinceramente que não cedam às ameaças. Os protestos estão a
expandir-se pelo Reino Unido fora e pela primeira vez desde há muito
tempo, o povo está a mobilizar-se para dizer uma ou muitas palavras
sobre assuntos que lhe dizem respeito. Neste momento, ocupar é
participar e isso tem um nome: democracia verdadeira.
Sofia Gomes, antigo membro da Cordenadora Distrital do Bloco de Esquerda de Vila Real., actualmente emigrada em Inglaterra.
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