O que nos trouxe o Processo de Bolonha?
03-Ago-2008
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Foi pouca a discussão sobre o Processo de Bolonha nas Universidades e sempre pouco clara. As perguntas colocadas pelos estudantes eram muitas e as respostas vagas “pode acontecer isto”, “pode acontecer aquilo”, “ainda não sabemos bem como fazer isso”.

Bolonha foi implementada à pressa e sob as palavras “Uniformização, Competitividade e Mobilidade”. As palavras soam bem e contribuíram para alienar os estudantes dos verdadeiros propósitos do processo de Bolonha.

Uniforme? Na definição encontramos isto “constituído por partes semelhantes; homogéneo”. As universidades são constituídas por estudantes, o ensino deve ser sempre virado para os estudantes e Bolonha não trouxe uniformização. Vemos agora as Universidades cada vez mais constituídas por duas partes de estudantes não semelhantes mas afastados pela classe económica a que pertencem e cada vez mais separados pelas oportunidades que dispõem, desiguais no alcance a uma formação superior e consequentemente ao mercado de trabalho.

Competição? “disputa entre adversários pelo mesmo lugar, resultado, prémio ou vantagem”. Como podemos ser competitivos se devido ao aumento das propinas se fecham as portas do ensino superior a cada vez mais estudantes? Que vantagem têm os estudantes que devido às dificuldades económicas cada vez mais agravadas vêem com dificuldade o acesso ao ensino superior que se quer para tod@s? Criaram-se de facto adversários pelo mesmo lugar numa luta desigual.

Mobilidade? Para quem? Que mobilidade nos pode trazer Bolonha? Mobilidade entre o desemprego e o emprego precário? Podemos agora concluir o nosso curso em universidades de outro qualquer país… esta mobilidade vai ser gratuita?! Há financiamento para esta mobilidade?! Quem tem dinheiro para pagar esta mobilidade?

O processo de Bolonha encobre desígnios que visam diminuir o investimento na educação. Agora que Bolonha foi implementado podemos observar o que realmente nos tem trazido. As propinas aumentaram. Bolonha foi mais um pretexto para o aumento do custo do ensino superior. O 1.º ciclo fica-nos por cerca de 2910€ se considerarmos os 970€ de propina na UTAD e o 2.º ciclo ou mestrado fica-nos, no mínimo por 3000€, em algumas Universidades as propinas ascendem a valores exorbitantes. Este processo leva à exclusão de milhares de estudantes deste nível de ensino. Quem, com dificuldades económicas, tem acesso ao ensino superior, certamente se ficará pelo 1.º ciclo, como se tem vindo a verificar e os mais favorecidos economicamente poderão alcançar uma formação universitária de maior valor realizando o mestrado. As preferências do mercado de trabalho têm comprovado isto mesmo, o 1º ciclo é geralmente preterido perante os candidatos com o 2.º ciclo.

O que nos trouxe o Processo de Bolonha? Desigualdade, Exclusão e Desinvestimento no Ensino Superior. Em resumo, o acesso à educação é um direito ao alcance de um grupo cada vez mais restrito.