Quando é que o Goldman Sachs contrata Paulo Futre!?
12-Dez-2011

paulo_seara.jpegPara os Chineses a crise escreve-se com dois ideogramas, o perigo e a oportunidade. Mas no mundo ocidental os sábios da economia ligam mais à oportunidade. Já vi muito economista a dar conselhos quanto à sustentabilidade das finanças públicas e salvar o BPP; como Teixeira dos Santos; a sugerir mais sangue (austeridade) na economia como Medina Carreira; a marcar pontos com os novos métodos e organização do trabalho como Bagão Félix; a graduar os relatórios e as más notícias, como 1% de crescimento até 2050, como o rei mago Vítor Gaspar; Passos Coelho disse também que esta crise vai passar se empobrecermos. Se emigrarmos todos também passa, mas nenhum país do mundo quer 10 milhões de refugiados.

O que eu não sabia é que Paulo Futre depois de trocar o futebol, pela publicidade, passou à economia no IPB de Bragança através uma conferência em jeito de stand up comedy sobre empreendedorismo.

No meio desta turbulência aparece o trader Futre, que assina a rúbrica histórias de vida, numa espécie de novas oportunidades para economistas, financeiros, contabilistas, TOC´S e ROC´S. Que saber acrescenta Paulo Futre aos alunos de economia e gestão do IPB!?

Contudo, Paulo Futre com a sua ingenuidade, contaminou o público. Não há nada de mal nisso. Com a sua escola de vida deu um exemplo de sobrevivência pura de quem saiu da província desprezada pelos economistas do centrão; e denuncia muita gente bem instalada nas autarquias, que, se não sabia que a crise se aproximava, sabia que estava a criar dívidas para as quais não havia economia local que respondesse.

Mas existe um lado perverso no acto de Futre. Se todos optarmos por fazer conferências ao jeito da sand up comedy não estamos a ultrapassar a crise e o fator perigo agudiza-se com as oportunidades de mercado. O pior, é a expansão de uma escola de pensamento único com uma dúzia de bacoradas pelo meio, que arregimentam mais e mais economistas e os leigos. Apresentam-se grandes substantivos abstratos ao jeito do Estado Novo (o Estado Magro, a flexibilidade, a austeridade, o nivelamento por baixo, pôr pobres contra pobres), mas a realidade mostra que se sobrecarrega o país de impostos; não se taxam os ricos; pagamos juros agiotas aos nossos amigos e aliados europeus (podre aliança e duvidosa amizade) acelera-se no desemprego; praticam-se orgias com a corrupção; a justiça esfuma-se de prescrição em prescrição; vendem-se empresas públicas que dão lucro a pataco. No meio disto tudo ainda nos pedem amor à pátria, sangue frio e cinismo para matar se for preciso, em nome do extremismo financeiro.

Não sei se Paulo Futre apresentou um plano de emergência para o país em Bragança de modo a relançar a economia, ou seja uma espécie insurreição à General Sepúlveda frente aos franceses em 1809?

Deixo cinco ideias que o movimento da greve geral propôs: proteger o emprego e criar emprego; proteger os salários e o consumo; conhecer a dívida para recusar a dívida abusiva; o Estado tem meios para reanimar a economia, usando os 12 mil milhões de euros; é hora de cobrar a dívida do capital aos contribuintes.

Será que Futre conhece os homens que criaram o desastre atual e a estratégia ziguezagueante de Ângela Merkel? Pois bem, passo a explicar o porquê desta inflexão. Os homens de negro são do Goldman Sachs. O banco de investimentos Goldman Sachs conseguiu uma façanha pouco frequente na história política mundial: colocar os seus homens na direção dos governos europeus e do BC Europeu. Estamos na fase imperialista do capitalismo financeiro, a Imperatriz é Merkel, a guarda pretoriana é da Goldman Sachs. Mário Draghi, o atual presidente do BC Europeu, Mário Monti, PM italiano. Recordo que o ex-presidente da República italiana Francesco Cossiga acusou Draghi de ter favorecido o Goldman Sachs em contratos importantes, quando Draghi era diretor do Tesouro e a Itália estava em privatizações. Lukas Papademos, o novo primeiro-ministro grego, saído do BC Europeu.

Foi também este banco que vendeu à Grécia os swaps, e maquilhou as contas gregas de modo a que a Grécia aderisse ao Euro em 2002. Depois, em 2006, o banco vendeu parte dos swaps ao principal banco comercial do país, o Banco Nacional da Grécia, dirigido por outro homem do Goldman Sachs, Petros Christodoulos, ex trader do Goldman Sachs e atualmente diretor do organismo de gestão da dívida da Grécia.

O Banco teceu uma rede de ações que lhe permitiu criar a crise europeia. Existem homens chave noutros pontos decisivos: Henry Paulson, ex-presidente do Goldman Sachs, foi em seguida nomeado Secretário do Tesouro dos EUA, ao passo que William C. Dudley, outro alto funcionário do Goldman Sachs, é o atual presidente do Federal Reserve de Nova York. Mas o caso dos responsáveis europeus é mais paradigmático. O Óscar vai para Mário Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu, que foi vice presidente do Goldman Sachs para a Europa entre os anos 2002 e 2005. Só falta cá um português, agora que há cada vez mais portugueses pelo mundo, como nunca. O português António Borges dirigiu até há pouco – acaba de renunciar – o Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional. Até 2008, António Borges foi vice presidente do Goldman Sachs.

Quando é que o Goldman Sachs contrata Paulo Futre!?