A cidade está prisioneira das corridas
10-Jun-2016

A CIDADE ESTÁ PRISIONEIRA DAS CORRIDAS

O Bloco de Esquerda já confrontou o atual executivo camarário por diversas vezes, quanto às opções tomadas e intervenções efetuadas na cidade para garantir a realização das corridas de automóveis do WTCC.

O que pensarão os e as munícipes do abate de árvores pela calada da noite, a eliminação de relvados na Alameda de Grasse, a colocação de rails permanentes no circuito, a ausência de segurança devido à péssima sinalização de obras, a criação de rotundas de duvidosa eficácia e de discutível gosto e o alcatroamento do piso efetuado de forma deficiente e que já obrigou a quatro intervenções na Avenida Europa, efetuadas sempre pela mesma empresa?

Porque foram estas situações prometidas como provisórias e tendencialmente passaram a permanentes, configurando uma situação caótica e lamentável no planeamento urbanístico, que afetou negativamente o dia-a-dia dos vila-realenses?

Não deveremos questionar também, se não existe um sucessivo atropelo dos direitos dos trabalhadores, tendo em conta as declarações do próprio vereador Carlos Silva, que afirmou que os atuais trabalhos são efetuados a partir de agora por um período de 24 horas, o que pode configurar uma flagrante violação do código do trabalho, caso não estejam a trabalhar por turnos e sem horas extraordinárias remuneradas?

Perante estas alterações que afetam a qualidade de vida da população de Vila Real, o Executivo Camarário justifica-se afirmando que são pequenos reparos que a valorização mediática das corridas no mundo compensa num retorno financeiro. Ora, não terá o próprio Presidente da CM, Rui Santos, que já afirmou por diversas vezes que o retorno camarário foi igual à despesa, demonstrado que os fundos municipais e comunitários utilizados neste evento são desperdiçados? Mais: quando Rui Santos anuncia um lucro “internacional” da prova do WTCC, estará efetivamente a agir como um Presidente de Câmara, ou como a figura de relações públicas da FIA e WTCC? Não será também esse lucro de 90 milhões de euros bastante inflacionado e alheio à questão essencial de saber se o sacrifício dos munícipes e visitantes, na sua rotina diária antes e depois das corridas, se justifica? Se estas corridas davam tanto retorno, porque deixou o Porto cair estes eventos?

Questionamos ainda: A oferta de alojamento existente no concelho não dá resposta à afluência do público anunciado, sendo assim, não se pressupõe que exista uma oferta paralela de arrendamento de habitações que beneficia particulares? Se Vila Real quer ser capital da Biodiversidade, não é um contrassenso a realização de provas desportivas que emitem poluição atmosférica e sonora? Não será esta prova elitista, dado que veda o acesso aos munícipes perante uma barreira financeira? Será que Vila Real hoje em dia, possui um traçado verdadeiramente adequado às provas automobilísticas, como antigamente, ou será este traçado forçado?

Mais dia, menos dia, não haverá árvores e relvados ao longo do circuito, se for essa a exigência da FIA e Vila Real será nada mais que um permanente estaleiro de obras desta entidade.

O Bloco de Esquerda defende que uma cidade que se quer assumir como uma referência cultural na Região, com pretensões de Capital Regional com manifestações e vertentes culturais diversificadas, sendo no presente momento Capital Cultural do Eixo Atlântico e se assume como um concelho envolvido na promoção e consolidação da Biodiversidade e das atividades Lúdico Desportivas de Ar Livre, não pode sacrificar tudo isto em função do calendário automobilístico das corridas do WTCC ou outras quaisquer.

A cidade e o concelho são bem mais do que as corridas podem oferecer. Colocando-as no topo das prioridades, a cidade fica refém destas provas automobilísticas e força os seus habitantes a viverem num permanente “colete de forças metálico” em prol de uma duvidosa justificação de segurança e observação das corridas e em detrimento da qualidade de vida e beleza da cidade.

Lançamos o repto aos vila-realenses, para que se juntem à discussão pública sobre se valerá a pena continuar com as corridas, e se sim, em que moldes, já que nunca foram questionados sobre o assunto.

Mesmo assim, e admitindo que hipoteticamente possa haver um grande número de adeptos fervorosos das corridas na nossa cidade, não podemos aceitar que as políticas implementadas para a sua realização sacrifiquem tudo o resto.

Em primeiro lugar as pessoas e a cidade, depois as corridas.

 

A Comissão Coordenadora da Concelhia de Vila Real do Bloco de Esquerda