 Este empreendimento [Baixo Sabor] não foi
suficiente: surgiram logo depois da sua aprovação as 10 grandes barragens propostas
no PNBEPH. Que também não serão suficientes, porque a estas seguem-se outras 10 a 13 a médio prazo, e que já
estão inscritas no estudo inicia. É sustentável este desenvolvimento? Talvez
para os empreiteiros a quem também não convém apostar na eficiência energética...
Daivões, Gouvães, Padroselos ou mesmo Alto Tâmega são nomes
que pouco dizem à maior parte das pessoas as quais, excepto no último caso,
terão sérias dificuldades em localizá-los. Mas são quatro grandes barragens já
aprovadas no âmbito duma das bandeiras de José Sócrates, designada com o
pomposo nome de Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial
Hidroeléctrico (PNBEPH). Programa esse que "visa tornar Portugal menos
dependente das importações de energia", do qual também fazem parte barragens
mais conhecidas cuja polémica se tem prolongado, como é o caso de Fridão
(Amarante) ou de Foz-Tua.
Só que neste caso as coisas estão a avançar a passos largos,
mas procurando não despertar demasiadas atenções. Aquele conjunto de quatro
barragens, designado por CASCATA DO TÂMEGA, foi recentemente concessionado à
gigantesca IBERDROLA (de cuja direcção faz parte o ex-ministro Pina Moura, que
definiu como governante as linhas mestras do programa energético do qual como
empresário tirará o máximo partido...). Os estudos de impacte ambiental irão já
arrancar dentro de poucos dias. Ora bem, este conjunto de barragens, mais
Fridão, irá mudar completamente o Tâmega e os afluentes mais importantes. E
todas as povoações ribeirinhas. O Tâmega desaparecerá como nós o conhecemos,
dado que desde a fronteira até Amarante será quase uma longa albufeira com
cerca de 150 km
de comprimento. Vamos a números para termos a noção da realidade:
Os aproveitamentos de Gouvães e Padroselos localizam-se em
dois dos afluentes mais interessantes em termos ambientais. No primeiro caso, a
barragem terá 36 m
de altura e 173 m
de comprimento localizando-se no Rio Torno. Mas desviará ainda a água dos rios
Viduedo, Alvadia e Olo. As célebres cascatas das Fisgas de Ermelo poderão
desaparecer e o próprio Parque Natural do Alvão será profundamente afectado. No
segundo, a barragem terá uma dimensão quase três vezes superior e será
instalada no Rio Beça, o qual a par do Olo é um dos rios menos poluídos no Norte
e o mais procurado para a pesca desportiva. Todavia, no caso do Rio Tâmega, não
é propriamente a grande dimensão das barragens do Alto Tâmega e Padroselos que
representa o factor crucial (terão alturas que se aproximarão dos 100 m e comprimentos no coroamento
de cerca de 300 m):
é a enorme área a ser abrangida pelas duas albufeiras, cujo comprimento de cada
uma se aproxima dos 40 km
e que, consequentemente, irão submergir valores naturais e patrimoniais de
grande significado, além de várias aldeias. Valores estes que serão destruídos
de modo irreversível.
Para quê? Repare-se que no caso do contestado Baixo Sabor, a
produção energética corresponde apenas aos aumentos de consumo em ano e meio...
Portanto, um aproveitamento que irá destruir um rio com valores inestimáveis e
que foi apresentado como algo de absolutamente imprescindível produz energia
para os acréscimos observados... em pouco mais de um ano. Mas este empreendimento
não foi suficiente: surgiram logo depois da sua aprovação as 10 grandes
barragens propostas no PNBEPH. Que também não serão suficientes, porque a estas
seguem-se outras 10 a
13 a
médio prazo, e que já estão inscritas no estudo inicia. É sustentável este
desenvolvimento? Talvez para os empreiteiros a quem também não convém apostar
na eficiência energética. Mas o agitar da bandeira das energias renováveis numa
altura em que os altos preços do petróleo que tanto incomodam o cidadão comum
vem no melhor momento. E o Governo sabe que esta é a altura melhor para vender
o produto. Os grandes tubarões ibéricos que se movem nestas águas turvas
agradecem...
Rui Cortes, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro (UTAD)
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