Nunca
como hoje o desenvolvimento sustentável faz parte do discurso
oficial, nos anos 80 os partidos ecologistas elegeram-no como uma
luta transversal em prol de uma melhor qualidade de vida, alteração
dos padrões de consumo e, mudança comportamental para com a
natureza.
Ao passar para as agendas mainstream
dos grandes partidos políticos portugueses; um ideal inovador
tornou-se vazio. Foi possível encerrar mais de 300 lixeiras, em
contraponto centenas de pedreiras laboram em áreas protegias.
Em
manifestos eleitorais e programas de acção a palavra
sustentabilidade resplandece como crescimento, construção,
aproximação, capitalidade, e claro está, progresso e modernidade.
Quantos excessos e sacrifícios muitas vezes exigem, quanto planos
vazios de sustentabilidade criam novas desigualdades. Existem
contradições e o verbo sustentar
tornou-se um slogan. “É pela nossa sustentabilidade “ que 6
novas barragens se constroem na bacia do Douro, aumentam absurdamente
direitos de construção no PDM municipal, abrem novos centros
comerciais, mumificam-se centros históricos, fazem-se cortes na
saúde e educação mas promovem-se esses serviços no sector
privado, entre outros.
O
império e o colonialismo também foi a nossa sustentabilidade
durante séculos, assim como o contributo das remessas dos emigrantes
desafogaram na segunda metade do século XX as contas públicas, dois
exemplos históricos.
As
complexas relações ambientais e dos ecossistemas não se compadecem
com as contradições do mercado. A reciclagem não pode ser encarada
insensatamente como um instrumento para manter os níveis de consumo
injustificáveis. A energia e recursos indispensáveis para reciclar
têm que ser encarados como despesa. No fundo o super consumo condena
o planeta ao canibalismo.
A
justiça ambiental é a justiça social, o desenvolvimento
sustentável com as pessoas e com o ambiente. A crise ambiental está
a reconfigurar as opções técnicas e políticas sobre o ambiente e
consequentemente sobre a economia. A nova política agrícola comum
vai propiciar a produção e distribuição local de bens, e
inelutavelmente vai originar uma redistribuição da riqueza. É
urgente uma justiça social encetada a partir do local para o global.
Só assim os problemas transmutarão as pessoas. Sentir o que é
nosso, mudar o que é nosso.
Mas
há resistências. A direita e o centro esquerda escudam-se com
opções teóricas e técnicas contraditórias em defesa dos grandes
grupos económicos e de uma adaptabilidade dentro das regras do
mercado. Em resposta a esquerda socialista quer realizar opções
políticas na sociedade, colocar a sociedade perante as suas
responsabilidades. Mesmo que se venha a comprovar mais tarde que as
alterações climáticas não se devem ao Homem, podemos
orgulharmo-nos de ter mudado paradigmas e as relações humanas.
Mas
não se pode estar à espera que a esquerda socialista instaure as
mudanças. Não é poder. A intervenção deve ser posta em várias
plataformas, associações, economia social, ONG`s, empresas, grupos
informais, acção individual.
E
do global para o local, a sustentabilidade do município de Vila Real
não deveria ser o embrulho simpático à vista bajulado de quatro em
quatro anos. Pasme-se, existe até uma agência de ecologia urbana
para trabalhar questões de sustentabilidade urbana (ou falta dela?)
e seria importante equacionar (será demasiado tarde?) e que ocupou
um edifício destinado a um centro de interpretação ambiental (que
dirão os licenciados neste campo?). Teríamos um espaço de apoio
turístico no bairro dos ferreiros; uma âncora para uma cidade com
poucas referências de escala ao nível turístico. Como o Palácio
de Mateus, que como sabemos está em Mateus e é uma referência
internacional.
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Publicado no Jornal "A Voz de Trás os Montes" de 20 de Março
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