O coordenador do Bloco de Esquerda considera um erro político, | uma
catástrofe, o recurso ao FMI e adverte que o governo já está a aplicar,
com o apoio de Passos Coelho, as receitas do Fundo Monetário.
Em entrevista à RTP, Francisco Louçã classificou de
discurso hipócrita o do ministro das Finanças que admitiu a possibilidade
de Portugal ter de recorrer ao Fundo Monetário Internacional se os
juros da dívida ultrapassarem os 7%. “O governo já está a aplicar, com
o apoio de Passos Coelho, as receitas do FMI. O FMI não deve governar o
país.”
Perguntado sobre a desconfiança dos mercados em relação à
possibilidade de Portugal poder deixar de cumprir os seus compromissos,
Louçã afirmou que os mercados não têm nenhuma desconfiança. “Os
mercados o que querem é poder ganhar uma parte cada vez mais importante
dos impostos que nós pagamos. E quanto mais forte for a recessão da
economia portuguesa, mais nos vão exigir”, advertiu, afirmando que é
importante saber quem são esses mercados.
“São bancos alemães, franceses, mas são também bancos portugueses,
que estão a comprar a dívida portuguesa tendo recebido empréstimos do
Banco Central Europeu a 1%, e estão a cobrar-nos, a nós contribuintes,
quase 7%”, disse Louçã, recordando que os bancos portugueses pagam de
IRC metade do que deviam pagar.
O coordenador do Bloco de Esquerda considerou um erro político, uma
catástrofe, o recurso ao FMI para impor cortes adicionais de salários.
Sobre o Orçamento de Estado para 2011 aprovado esta semana na
generalidade, Louçã disse que “Com o orçamento, temos recessão. E
quanto pior estiver a situação da economia portuguesa mais dificuldades
temos de responder às obrigações, aos compromissos e sobretudo às
dificuldades das pessoas.”
Para o deputado do Bloco, “Nós só temos uma certeza: com este
orçamento, a economia do próximo ano estará pior que a deste ano e os
mercados financeiros apercebem-se desta fragilidade. E ao contrário do
que nos garantiram o primeiro-ministro, José Sócrates, Passos Coelho e
Cavaco Silva, este acordo que foi feito para este orçamento deu o sinal
da debandada, do colapso económico. Ou seja, de que Portugal é um país
que pode ser atacado pelos especuladores.”
Perguntado sobre que alternativas existem, Louçã defendeu um bom
orçamento, que evitasse que no dia 1 de Janeiro se cortasse os
salários, congelasse as pensões e aumentasse os impostos, ou seja, se
caminhasse para a recessão. “Era possível um orçamento que caminhasse
para a consolidação das contas públicas para uma economia que crie
emprego, porque a economia serve para as pessoas, não serve para criar
uma catástrofe social.”
Especificando os passos para se construir um bom orçamento, Louçã
mostrou as alternativas para cortar na despesa supérflua: a empresa
Ferrostal que construiu os submarinos deve ao Estado português 600
milhões de euros de contrapartidas financeiras que não cumpriu. Por
isso o Estado tem toda a legitimidade de romper o contrato dos
submarinos de 500 milhões de euros. “O dinheiro dos submarinos é o
dinheiro que se tira aos idosos e aos mais pobres.”
Por outro lado, a PT, se fosse pública, estava a dar 2.500 milhões
de euros ao Estado. Isso compensava todo o efeito do corte dos salários
e parte do aumento do IVA. Mas o Estado nem sequer cobra à PT um
imposto sobre as mais-valias.
Louçã defendeu ainda que se cobrassem taxas a quem ganhou com as
dificuldades financeiras e não pagou imposto – isto é, a banca.
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