 Foi conveniente seguir o
conselho dos engenheiros ferroviários suíços e fechar a linha do
Corgo em Março de 2009. Encerrar a tempo de evitar derramamento de
sangue. Porém, assim se escondeu um legado de abandono principiado
por Cavaco Silva e cessado por José Sócrates, com um decreto que
dizia conhecer enciclopedicamente a condição da linha, em defesa da
segurança dos utentes (estes devem estar rodeados de todas as
seguranças), de preferência a segurança do isolamento, a segurança
da ineficiente rede de autocarros, em último caso a segurança da
boleia.
Quanto ao resto desta
tortuosa peripécia, conhecemos o último acto. Juras quebradas,
arrufos desmaiados e soluços, e lágrimas de crocodilo. Afinal o
culpado é o PEC e a crise internacional, malogrou os projectos
altruístas do governo PS.
Que fazer com a linha,
mais uma ecopista? No interior já existe excesso de ecopistas (nos
locais errados) e ecopisteiros. Podíamos usar a linha para dinamizar
a criação de locais de emprego e actividades económicas no bairro
da Estação em Vila Real, e nas proximidades da estação da Régua.
A linha, atrofiou em parte porque existe uma crónica arte de criar
desemprego e crises cíclicas na linha ideológica do centrão. A
arrojada erosão do estado previdência operada por tecnocratas de
ambos os partidos, que apenas vêm as empresas públicas como fontes
de rendimento pessoal, provocou o definhamento de serviços públicos
essenciais como a linha do Corgo. É antes de mais uma questão
ideológica e não uma questão de modernidade ou gestão de
recursos, e contra isso o Bloco de Esquerda diz não.
A 22 de Setembro de 2010,
foi comemorado mais um dia europeu sem carros. Em Vila Real, nem
tanto, longe vai o tempo da primeira iniciativa quando numa pateta
manobra de marketing um carro foi destruído na via pública, talvez
estivesse próximo uma municipalização dos transportes locais, mas
não, foi só espalhar pétalas e promessas. Actualmente a mobilidade
em Vila Real resume-se ao túnel do Marão, o Viaduto do Corgo, a A4,
as salamandras que a Corgobus salvou com autocolantes nos vidros dos
autocarros. Em síntese, prioridade para o automóvel e o asfalto.
Tive a oportunidade a 23
de Setembro de experimentar as oportunidades de locomoção na rede
rodoviária privada entre Vila Real e a Régua por causa de uma
entrevista. Investi 12 € e a alma pesou-me ao perder um dia de
trabalho. Foi dinheiro e tempo atirado borda fora, no percurso para
Vila Real gastei 1.90 €, de Vila Real para a Régua, através de
Santa Marta de Penaguião gastei 3.00 € numa viajem sinuosa e
curvilínea de quase uma hora, ao que se juntaram despesas com
alimentação, ao voltar despendi 5.50 € num expresso entre a Régua
e Vila Real, e novamente gastei, uns módicos 1.90 € para voltar ao
lar, e como prenda de bom comportamento consumista tive que caminhar
1,5 km até casa. Feliz ou infelizmente naquele dia o meu carro
estava na oficina.
A grande contradição
deste desperdício capitalista, ou imagem de gente simples a viver
acima das suas possibilidades como gosta de dizer Pedro Passos Coelho
com a sua verdade da economia, é que se estivesse a linha
operacional gastaria 3.80 €, em duas viagens, não necessitando de
gastos extra, e cumpriria sem pressas os meus planos. Onde eu quero
chegar, é um exemplo acabado. A mobilidade é uma cortina de fumo,
fiquei desesperado e preso no nevoeiro inerte a reviver a
pré-história das vias de comunicação e o tempo das grandes veias
de comunicação, as auto estradas, sem poder gozar das maravilhas do
estado previdência, como o comboio, que me deixaria em pouco mais de
trinta minutos e num local central a um preço de acordo com as
minhas possibilidades – Não é senhor Sócrates e senhor Passos
Coelho!
Existe uma grave demissão
das responsabilidades de criar urgentemente uma rede de mobilidade
para os cidadãos do nosso distrito, sobretudo entre Vila Real, Régua
e Lamego; uma rede intermunicipal urbana eficiente, amiga do ambiente
e barata. Na Régua por exemplo nem sequer existe um terminal
rodoviário como o que vai abrir (finalmente) em Vila Real. Poderá
estar contemplado nos 15 milhões de euros a utilizar no programa de
regeneração urbana?
Sei que existem planos
para criar um sistema de mobilidade intermunicipal através de
autocarros, no âmbito da Douro Alliance, Manuel Martins até fez uma
declaração nesse sentido. Mas o que vai ser afinal essa rede de
transportes? Talvez o sabemos de véspera como é hábito crónico
dos executivos PSD.
Se isto não for útil
para despertar as consciências apegadas a rochedos antiquados é
porque o individualismo da nossa comunidade é tão real e
conservador como aqueles que a governam, e aqueles que secundam em
oposições de fachada, como o PS.
Não surgiu até à data
nenhum movimento cívico ou manifestação popular para defender a
linha do Corgo e viagens de comboio a 1.90 €, mas da parte do Bloco
de Esquerda, continuamos disponíveis para a luta pelos serviços
públicos e por viagens a 1.90 €.
Artigo de opinião:
Outubro de 2010
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