“As grandes superfícies comem-nos a carne e deixam-nos os ossos”. A
frase, proferida pelo presidente da Câmara de Montalegre, é bem o
espelho da situação em que vivem boa parte dos agricultores portugueses e
que assume uma dimensão ainda mais grave, na Região do Barroso e do
Nordeste Transmontano, como constataram os deputados do Bloco de
Esquerda, Pedro Soares e Rita Calvário, durante uma visita da comissão
Parlamentar de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.
As dificuldades de comercialização de produtos como a castanha, a
batata, a carne barrosã, e os baixos preços que a grande distribuição
impõe aos produtores, foram duas das queixas que dominaram os discursos
dos agricultores, como confirmou Rita Calvário.
A deputada do Bloco de Esquerda solidarizou-se com os agricultores
perante a “chantagem comercial” que estão a ser vítimas, mas defendeu
que a situação não é inevitável e defendeu a celebração de “contratos
tipo, entre produtores e vendedores, de forma a garantir uma relação
mais saudável e preços mais justos”.
Sobre as dificuldades de comercialização Rita Calvário defendeu que o
Ministério deve apoiar a criação de um sistema de circuitos comerciais
de proximidade, que permita a venda dos produtos a preços justos.
A deputada destaca ainda o sentimento de abandono por parte do
Ministério da Agricultura que é comungado pelos agricultores
transmontanos, que questionaram mesmo a sua existência: “O presidente da
Cooperativa de Boticas denunciou que os serviços locais estão a mandar
os agricultores tratarem dos seus assuntos em Lisboa o que em nosso
entender é inaceitável, sobretudo quando o próprio ministério, colocou,
há alguns anos, centenas de funcionários no quadro da mobilidade”.
Pedro Soares, presidente da Comissão Parlamentar reconheceu que a
agricultura está a passar por uma fase de grande desvalorização, mas
considerou que “a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) poderá
contribuir para repor alguma justiça se conseguirmos que os agricultores
possam ser apoiados em função da sua produção”.
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