Para
os Chineses a crise escreve-se com dois ideogramas, o perigo e a
oportunidade. Mas no mundo ocidental os sábios da economia ligam
mais à oportunidade. Já vi muito economista a dar conselhos quanto
à sustentabilidade das finanças públicas e salvar o BPP; como
Teixeira dos Santos; a sugerir mais sangue (austeridade) na economia
como Medina Carreira; a marcar pontos com os novos métodos e
organização do trabalho como Bagão Félix; a graduar os relatórios
e as más notícias, como 1% de crescimento até 2050, como o rei
mago Vítor Gaspar; Passos Coelho disse também que esta crise vai
passar se empobrecermos. Se emigrarmos todos também passa, mas
nenhum país do mundo quer 10 milhões de refugiados.
O
que eu não sabia é que Paulo Futre depois de trocar o futebol, pela
publicidade, passou à economia no IPB de Bragança através uma
conferência em jeito de stand up comedy sobre empreendedorismo.
No
meio desta turbulência aparece o trader Futre, que assina a rúbrica
histórias de vida, numa espécie de novas oportunidades para
economistas, financeiros, contabilistas, TOC´S e ROC´S. Que saber
acrescenta Paulo Futre aos alunos de economia e gestão do IPB!?
Contudo,
Paulo Futre com a sua ingenuidade, contaminou o público. Não há
nada de mal nisso. Com a sua escola de vida deu um exemplo de
sobrevivência pura de quem saiu da província desprezada pelos
economistas do centrão; e denuncia muita gente bem instalada nas
autarquias, que, se não sabia que a crise se aproximava, sabia que
estava a criar dívidas para as quais não havia economia local que
respondesse.
Mas
existe um lado perverso no acto de Futre. Se todos optarmos por fazer
conferências ao jeito da sand up comedy não estamos a ultrapassar a
crise e o fator perigo agudiza-se com as oportunidades de mercado. O
pior, é a expansão de uma escola de pensamento único com uma dúzia
de bacoradas pelo meio, que arregimentam mais e mais economistas e os
leigos. Apresentam-se grandes substantivos abstratos ao jeito do
Estado Novo (o Estado Magro, a flexibilidade, a austeridade, o
nivelamento por baixo, pôr pobres contra pobres), mas a realidade
mostra que se sobrecarrega o país de impostos; não se taxam os
ricos; pagamos juros agiotas aos nossos amigos e aliados europeus
(podre aliança e duvidosa amizade) acelera-se no desemprego;
praticam-se orgias com a corrupção; a justiça esfuma-se de
prescrição em prescrição; vendem-se empresas públicas que dão
lucro a pataco. No meio disto tudo ainda nos pedem amor à pátria,
sangue frio e cinismo para matar se for preciso, em nome do
extremismo financeiro.
Não
sei se Paulo Futre apresentou um plano de emergência para o país em
Bragança de modo a relançar a economia, ou seja uma espécie
insurreição à General Sepúlveda frente aos franceses em 1809?
Deixo
cinco ideias que o movimento da greve geral propôs: proteger o
emprego e criar emprego; proteger os salários e o consumo; conhecer
a dívida para recusar a dívida abusiva; o Estado tem meios para
reanimar a economia, usando os 12 mil milhões de euros; é hora de
cobrar a dívida do capital aos contribuintes.
Será
que Futre conhece os homens que criaram o desastre atual e a
estratégia ziguezagueante de Ângela Merkel? Pois bem, passo a
explicar o porquê desta inflexão. Os homens de negro são do
Goldman Sachs. O banco de investimentos Goldman Sachs conseguiu uma
façanha pouco frequente na história política mundial: colocar os
seus homens na direção dos governos europeus e do BC Europeu.
Estamos na fase imperialista do capitalismo financeiro, a Imperatriz
é Merkel, a guarda pretoriana é da Goldman Sachs. Mário Draghi, o
atual presidente do BC Europeu, Mário Monti, PM italiano. Recordo
que o ex-presidente da República italiana Francesco Cossiga acusou
Draghi de ter favorecido o Goldman Sachs em contratos importantes,
quando Draghi era diretor do Tesouro e a Itália estava em
privatizações. Lukas Papademos, o novo primeiro-ministro grego,
saído do BC Europeu.
Foi
também este banco que vendeu à Grécia os swaps, e maquilhou as
contas gregas de modo a que a Grécia aderisse ao Euro em 2002.
Depois, em 2006, o banco vendeu parte dos swaps ao principal banco
comercial do país, o Banco Nacional da Grécia, dirigido por outro
homem do Goldman Sachs, Petros Christodoulos, ex trader do Goldman
Sachs e atualmente diretor do organismo de gestão da dívida da
Grécia.
O
Banco teceu uma rede de ações que lhe permitiu criar a crise
europeia. Existem homens chave noutros pontos decisivos: Henry
Paulson, ex-presidente do Goldman Sachs, foi em seguida nomeado
Secretário do Tesouro dos EUA, ao passo que William C. Dudley, outro
alto funcionário do Goldman Sachs, é o atual presidente do Federal
Reserve de Nova York. Mas o caso dos responsáveis europeus é mais
paradigmático. O Óscar vai para Mário Draghi, o atual presidente
do Banco Central Europeu, que foi vice presidente do Goldman Sachs
para a Europa entre os anos 2002 e 2005. Só falta cá um português,
agora que há cada vez mais portugueses pelo mundo, como nunca. O
português António Borges dirigiu até há pouco – acaba de
renunciar – o Departamento Europeu do Fundo Monetário
Internacional. Até 2008, António Borges foi vice presidente do
Goldman Sachs.
Quando
é que o Goldman Sachs contrata Paulo Futre!?
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