Hoje as funções públicas da Casa do Douro são uma memória. Regulação já não existe. O IVDP– Instituto do Vinho do Porto,é o escudo protector da liberalização. No ambiente, aconstrução de barragens favoreceu os cruzeiros em detrimento da protecção ambientale da sustentabilidade turística. No trabalhoas grandes quintas embaratecem a mão de obragraças também protecção do IVDP, e das alterações ao código de trabalho, se bem que houve progressos no que respeita à contratação para os quadros de algumas empresas, em abono da verdade.Mas empobreceu-se no geral.Os pequenos e médios viticultores empobreceram. São momentos de decadência cíclica, dizem os escribas do regime. Existem alternativas, recomeçar. A luta de classes existe, porém dissimulada, porém inarticulada. Não é fácil, encontrar um programa comum. Falta politização, falta cidadania, falta prática.
Mas o BE está aqui para essa luta.
Se nos valores conceptuais os transmontanos vacilam ante as alternativas; deve-se isso ao seu conservadorismo, mas até isso face à agressividade social do governo é um castelo de cartas.A importância de mencionar o conservadorismo reside no facto desse factor misturado com o neoliberalismo demolidor dos yuppies vinícolas, conduzirá à catástrofe social. O ultra conservadorismo quer substituir o conservadorismo.São planos a mais, teorias a mais, corrupção a mais, e então para a vida das pessoas: nada.
A terra é o móbil da luta,a luta pela posse numa lógica de uma economia de mercado. Conduz ao abandono rural, à falência de cooperativas, conduz à proletarização geral. A região demarcada mudou muito em 20 anos, para pior, sobretudo desde a década passada. Houve uma corrida ao crédito, falta de intervenção do Estado. Populacionalmente algumas zonasrecuaram para o censo de 1864.Podemos caracterizar a evolução da região demarcada do douro como uma economia que mudou infra-estruturalmente, mas que socialmente se degrada; não é com programas de apoio à natalidade que se resolve a questão, é o emprego e a emancipação que resolvem o retrocesso populacional.
A asfixia arquitectada pelas grandes cadeias de distribuição, casas exportadoresda qual fazem parteo grupo denominado Douro Boys (Dirk Niepoort, Francisco Olazabal, Cristiano van Zeller, Miguel Roquette e Francisco Ferreira), com o beneplácito de sucessivos governos, conduziram o Douro à depressão. Os Douro Boys poderiam fazer melhor? Não. Primeiro que tudo os seus mercados alvos têm um valor, não trabalham para gerar emprego.Só um programa radical pode derrotar essa visão única.Que é tão indiferente aos direitos sociais conquistados como a velha fórmula liberal que usa o crescimento económico encavalitado no social, com frases como “Depois dos sacrifícios, e de crescermos haverá dinheiro para a funções sociais do estado”.
Ainda se pode pensar, sem ver à lupa que as vinhas são por todo o território músculo, não é assim de todo.
Nunca se vai atingir a produtividade e níveis de empregabilidade (precária e semdireitos)das regiões produtoras de vinho do novo mundo, pois apenas os solos de tipo A e B são lucrativos, esão um bem geograficamente escasso, mas ao nível dos salários estamos próximos; as mulheres, a principal força de trabalho recebe sempre menos.
Faltam políticas públicas de emprego e desenvolvimento, três maus exemplos são: a barragem do Tua, o fecho dos serviços públicos, e uma rede de saque de fundos sociais arquitectados pela tríade, autarcas, bancos, construtoras. Fiscalmente, a fuga de impostos das grandes empresas vinícolas, sendo uma delas, agora, propriedade de Isabel dos Santos, e o corte de apoios comunitários para ospequenos emédios viticultores estão a provocar o estertor neste sector da economia.Ademais, descobrimos que temos uma ministra da agricultura, Assunção Cristas, queaomesmo tempo queadministra um ministério ingovernável, vende nas horas vagas seguros de colheitas, assim o publicitou descomplexada, no verão de 2012, aquando de uma tempestade de granizo.
Sim o neo-liberalismo do Douro existe, é a flutuação dos mercados, é a especulação, é o corporativismo.
Mas como explicar o neoliberalismo às pessoas. Entre nós é simples. Fora de nós, no meio, é preciso focar as troikas que a troika tem.
Paulo Seara