 O Bloco promove um debate sobre alternativas para o interior do país e
o mundo rural na Biblioteca Municipal da Covilhã, dia 10 de Maio às
15h, com Miguel Portas e Francisco Louçã. Alternativas que passam pelo
desenvolvimento sustentável, com mais respeito pelo ambiente e menos
PIN's à medida dos construtores e dos grandes grupos económicos. Leia aqui o folheto da iniciativa.
MAIS
SERVIÇOS PÚBLICOS CONTRA
O INTERIORICÍDIO
1.
As opções do atraso.
Historicamente,
o acesso à
terra, à
água e à propriedade influenciaram decisivamente, em
muitos casos, a construção das povoações
e a geografia humana.
Por
cá, a burguesia optou por um modelo de crescimento que gerou
atraso em vez de desenvolvimento e marcou um sulco quase vertical no
país que separou económica e socialmente o litoral do
interior.
A
ideologia da pobreza e da ruralidade, a industrialização
de mão-de-obra intensiva, miseravelmente paga, a poluição
dos recursos naturais, a repressão política, cultural e
social marcaram o legado fascista sobre os territórios do
interior.
Prisioneira
do atraso, a miríade de minúsculas aldeias, que fizeram
o imaginário conservador, só poderia, nestas condições,
ter o desaparecimento como destino.
Esta
é a nossa primeira acusação: o atraso impôs
a miséria no interior do país e a sangria dos melhores
recursos humanos, obrigando muitas centenas de milhares de pessoas à
emigração.
2.
Das conquistas ao retrocesso
A
liberdade trouxe novas relações sociais e de poder. A
esperança renasceu na consigna socialista e as nacionalizações
propiciaram enormes saltos na qualidade de vida do interior do país.
Na generalização do ensino e conhecimento, nos serviços
públicos de transporte, energia, água, comunicações,
ambiente e saúde.
E
se é verdade que no poder local se desenvolveram caciquismos,
também é verdade que este propiciou avanços em
infra-estruturas essenciais.
Porém,
a recuperação das forças do atraso trouxe a
privatização de empresas e serviços públicos,
bem como o encerramento de serviços à população,
perda significativa de empregos e a ideologia da competitividade em
vez da construção de sinergias e solidariedades. A
ausência de investimento na reestruturação e
modernização económica deram lugar a falências
consecutivas nos têxteis, nos lanifícios, no calçado
e mais recentemente nas indústrias eléctricas ou de
metalurgia ligeira, sem alternativas.
Esta
é a nossa segunda acusação: PS, PSD e CDS,
partidos sempre detentores do poder e do aparelho de Estado foram
protagonistas e decisores do interioricídio. E temos que
dizer: Sócrates traiu o interior!
3.
Uma Europa sem rumo para as regiões da raia e do interior.
Os
fundos europeus foram, essencialmente, a ilusão na
continuidade. Raramente a União Europeia teve um papel activo
na dinamização de políticas comuns de
desenvolvimento nas regiões transfronteiriças.
Simplesmente, porque estas regiões apenas são
importantes como zonas de passagem de energia ou mercadorias entre os
grandes centros de produção e consumo.
E
como já antes dissemos "os fundos comunitários
permitiram a Portugal uma modernização de superfície,
que não foi capaz de chegar às raízes do nosso
atraso. Isto ficou a dever-se tanto à natureza dos diferentes
programas europeus, como ao modo como os governos os decidiram
aproveitar, fundamentalmente em obras de infra-estrutura e só
residualmente em investimento imaterial, na qualificação
e no conhecimento".
Por
outro lado, a privatização e encerramento dos serviços
públicos dificultaram o uso por ambos os povos de cada lado
das fronteiras e quando esse uso aconteceu - como no caso da
maternidade de Elvas - tal deveu-se, essencialmente, a esse
objectivo de encerramento. Aliás, este caminho neoliberal
europeu não quer serviços públicos europeus.
A
terceira acusação é a de que a linha dominante
na Europa, consubstanciada no defunto Tratado de Lisboa, agrava as
assimetrias entre as regiões na Europa.
Essa linha prossegue a privatização dos serviços
públicos europeus, introduz uma competição entre
regiões e países - provocando deslocalização
de empresas e a importação de desemprego, abandona a
luta europeia pelo desenvolvimento harmonizado de todos os
territórios - apesar de todos os ditos fundos, abandona a
luta pela agricultura sustentável e a defesa do meio ambiente
- como se comprova com o crescimento dos transgénicos e a
monocultura "andaluza" em volta dos terrenos do Alqueva.
4.
Bloco apresenta alternativa de desenvolvimento sustentável
Ao
rejeitar este modelo de desenvolvimento o BE apresenta uma
alternativa, que confronta a política do interioricídio
e disputa o apoio da maioria popular.
Essa
alternativa, esse novo modelo de desenvolvimento para o futuro é
assente em 5 pilares:
-
Uma
carta dos serviços públicos. Um
mapa que distribua serviços públicos de qualidade,
encontrado no debate com
as forças vivas e que traduza as escolhas de desenvolvimento
para o interior.
-
Política
de criação de emprego e apoio social.
Em primeiro lugar criando emprego em novos serviços públicos
de apoio social, agora inexistentes. Introdução de
medidas de discriminação positiva: majoração
do salário mínimo nacional, das pensões, de
subsídios de desemprego, casamento, nascimento e abono de
família. Na mesma linha, majoração dos
subsídios aos estudantes nos vários graus de ensino. A
exemplo dos Açores, criação de uma bolsa de
pagamento estatal do estudos aos estudantes que, nas áreas da
saúde, acção social, e engenharias, se
comprometam a integrar durante seis anos os quadros da administração
central ou local em concelhos do interior.
-
Regionalização.
A regionalização tem que ser um processo para criar
mais democracia e mais soluções, não para criar
mais burocracia e caciquismo. A descentralização do
poder implica responsabilidades democráticas, com órgãos
eleitos e com competências supra-municipais a partir das
actuais regiões plano. Exige-se a ampliação dos
poderes das assembleias municipais, nomeadamente em questões
orçamentais e a alteração da Lei de Finanças
Locais que penaliza os concelhos com menos indústria e menos
especulação imobiliária.
-
Modelo
de desenvolvimento sustentável. Com
desenvolvimento das energias alternativas, transportes públicos
(incluindo o ferroviário), agricultura biológica,
turismo ecológico, valorização das
potencialidades endógenas a cada região, proibição
do PIN e PIN+, obrigatoriedade de implementação das
agendas XXI Local. Valorização das cidades médias
e de programas regionais de desenvolvimento. Preservação
das Reservas Ecológica e Agrícola e da Rede de Áreas
Protegidas.
-
Políticas
europeias de desenvolvimento e harmonização social.
Se a Europa tem responsabilidades e desafios a enfrentar eles estão
nas políticas comuns para o desenvolvimento sustentável
do interior e das regiões transfronteiriças, protecção
ambiental, direitos fundamentais mínimos entre trabalhadores
de diferentes países, rendimento
mínimo europeu ou politicas complementares de prestações
sociais dos países mais pobres.
Apresentamos
uma alternativa política para um desenvolvimento equilibrado
do país. Essa alternativa política é coerente
nas autarquias locais, nas legislativas ou na Europa. Mas as
propostas do Bloco são políticas de diálogo com
os actores locais, são políticas que procuram juntar
forças. Por isso apelamos à participação
e à cidadania.
|