O Bloco de Esquerda (BE) promoveu neste período pré-campanha
e de campanha, três sessões com entrada livre, sobre os temas que mais marcam o
concelho de Vila Real, no presente e para o futuro, que após quase quatro
décadas de governação do Partido Social Democrata (PPD/PSD), viu evoluir um
estado de podridão, de mal para pior.
Na primeira sessão, intitulada “Vila Real sem Esperança?”,
quisemos colocar em causa o atual estado de coisas, quisemos interrogar os
vila-realenses, quisemos propor e ouvir, os problemas que nos afetam
diariamente.
Dividida em três temas, a Emergência Social, o Ambiente e o
Ordenamento do Território, focamos os problemas do desemprego, da crise e
responsabilidade pelo bem-estar social, resultantes de anos sucessivos de
governações nacionais empenhadas no proveito próprio dos seus governantes ao
invés do proveito do povo, bem como da ausência de estratégia de emprego a
nível local; da destruição da Biodiversidade e das escarpas do Corgo com uma
política de betão e descoordenação assente na esperteza saloia, de quem viu em
torres a forma de competir com o litoral ao invés da aposta no regionalismo e
cooperação inter-regional; do Plano Director Municipal escrito com uma visão
irrealista do crescimento de Vila Real, da ausência de redes e espaços de
transportes variados, como as ciclovias e o comboio, assim como os passeios
degradados e as habitações em ruínas e/ou ao abandono.
A segunda sessão, “Vila Real e os Dinheiros Europeus”, que
contou com a presença da eurodeputada Marisa Matias, procurou fazer o que as
demais candidaturas pecaram em falar: discutir a utilização dos fundos
europeus, o antigo Quadro Nacional de Estratégia Nacional (Q.R.E.N.) agora
renomeado “Portugal 2020”, para levar a cabo as propostas autárquicas.
Porque as propostas autárquicas não podem ser baseadas na
lógica do “para inglês ver” mas sim em factos, em estratégia, na defesa da
regionalização e no conhecimento das verbas disponíveis para utilizar
localmente, falamos nas obras que receberam fundos comunitários mas que, ou por
falta de estratégia e coerência dos governantes, locais e nacionais, ou por
incompetência, ficaram por fazer ou foram mal feitas. São os casos do Terminal
de Transportes, do Centro Transfronteiriço e do Centro de Ciência Viva, entre
outros tantos, todos eles mamarrachos, sem expectativa de conclusão, sendo que
o caso do Centro de Ciência Viva demonstra a ignorância que assolou a Câmara
Municipal durante estas quatro décadas: o incumprimento das normas da rede
Ciência Viva fez com que o Centro construído em Vila Real fosse excluído desta
rede.
Abordou-se também a cooperação que deve ser realizada com a
UTAD, que viu a sua parte destas verbas, destinadas à investigação, ser
substancialmente reduzidas, para poder continuar a ter uma Academia
Universitária em Vila Real, em que os seus utentes principais, os estudantes,
possam ter condições de produzir Conhecimento e gerar emprego em Vila Real.
A sessão final sobre Cultura e Desporto, abordou em primeiro
lugar a ausência da estratégia cultural de larga escala, sendo todo o foco
cultural da responsabilidade camarária, atirado para a empresa municipal
Culturval, agora extinta e integrada na Câmara Municipal, e que apesar de
realizar um bom trabalho, focou-se praticamente no Teatro Municipal de Vila
Real. As outras atividades culturais em Vila Real, passaram a depender de
pequenas entidades autónomas com pouca capacidade financeira e cujos apoios são
reduzidos, e mesmo neste âmbito, a proeminência que foi dada na cidade foi a uma
cultura pindérica e das praxes académicas, ambas reduzidas em nível de formação
cultural produtiva e que abrisse o município ao exterior.
A prática desportiva foi mal pensada pelo Executivo
Camarário, que mais uma vez, viu nas edificações faraónicas a sua estratégia,
ao invés de averiguar as necessidades desportivas da cidade. O Complexo
Desportivo do Seixo é subaproveitado, com as aulas de desporto das escolas a
não serem direcionadas para este edifício, salvo duas exceções, e com o horário
de funcionamento sendo reduzido para o final da tarde. Outros locais de prática
desportiva, não foram pensados tendo em conta o número de utilizadores, tal
como o Parque de Desportos Radicais e o Monte da Forca, que é o maior campo de
treinos, em termos de dimensão, da Europa, e no entanto permanece abandonado. O
Campo do Calvário foi alvo de uma pretensa construção de uma piscina olímpica,
apesar de, por exemplo em Braga, este tipo de obra ter um custo de 22 milhões
de euros, quando Vila Real tem um orçamento para tudo de apenas 35 milhões de
euros.
Já as badaladas Corridas de Vila Real, apesar de terem mais condições do que
aquando os seus tempos de glória, não tem em conta o crescimento urbano da
cidade, quer em termos de expansão de edifícios, quer em termos de crescimento
de população em torno do circuito. De facto, hoje residem mais pessoas em torno
do circuito do que há 50 anos atrás, podendo o estorvo causado ser indesejado
por muita gente. No entanto, o Bloco propõe a realização de um museu de espólio
das corridas e uma consulta pública para averiguar o interesse em trazer de
volta esta prática desportiva. Defendemos ainda as corridas pedestres, fazendo
usufruto de uma expansão do Parque Corgo.
Destas sessões, vimos salientada a necessidade de no dia 29
de Setembro, existir a confiança e a coragem de apostar nas propostas do Bloco
de Esquerda.
Desde logo a criação de um Gabinete de Emergência Social,
adstrito a um vereador, que evite o assistencialismo (a caridadezinha), atuando
na raiz dos problemas, através do acompanhamento de pessoas desempregadas,
precárias e em situação de pobreza e endividamento, que possua um Banco de
Voluntariado, uma Bolsa de Emprego e técnicos multidisciplinares (sociólogos,
psicólogos, juristas, economistas, engenheiros civis) que façam um diagnóstico
atual da situação social. Este gabinete deve pugnar pelos critérios de justiça
e transparência na decisão dos beneficiados e avaliação constante dos
resultados.
A defesa do Vale do Corgo que representa o melhor património
do Concelho para visitação, realizando a despoluição do Rio Corgo, reabilitando
a sua praia fluvial e preservando as albufeiras de Lamas de Olo e do Sordo, que
são fonte essencial de abastecimento de água.
A reabilitação urbana do núcleo central da cidade e do
Bairro dos Ferreiros, acabando de vez com o mamarracho do Hotel do Parque,
existente há mais de três décadas e requalificando a Avenida Carvalho Araújo em
consonância com a população e os comerciantes. Defenderemos o regresso da Linha
do Corgo, que será um benefício em termos de dinheiro gerado pelo turismo e
transporte de mercadorias, bem como as deslocações das populações de fora de
Vila Real à cidade e vice-versa.
Propomos o reenquadramento do Centro de Ciência Viva e da
Agência de Ecologia Urbana como instrumentos de educação ambiental e a criação
de um festival de artes performativas de carácter internacional.
Queremos colocar em prática uma Carta Desportiva atualizada
e uma ligação coordenada pelo município entre as diversas entidades desportivas
locais, definindo procedimentos corretos na atribuição de subsídios via
contratos-programa com estas entidades.
Finalmente e acima de tudo, pugnaremos pela coesão regional
em favor de uma estratégia entre vários municípios contra o interioricídio, a
desburocratização e reorganização dos serviços municipais e a implantação de um
Orçamento Participativo para que toda a gente de Vila Real possa participar nas
decisões.
Tudo isto é democracia, tudo é uma forma diferente de ver as
coisas. Estas sessões serviram acima de tudo para enriquecer as nossas
propostas, com contributos de diversa gente, com ou sem partido, e insere-se no
espírito de solidariedade e modernismo que o Bloco de Esquerda quer trazer a
Vila Real.
É por isso essencial, votar no Bloco de Esquerda: porque
nunca deixaremos de ouvir as pessoas, para saber servi-las e não servir a nós
próprios.
Carlos Ermida Santos, candidato à Assembleia Municipal de Vila Real, membro da Comissão Nacional Autárquica do Bloco de Esquerda e atual deputado municipal do Bloco de Esquerda em Vila Real em regime de substituição
Artigo publicado no dia 25 de Setembro de 2013 no Jornal Notícias de Vila Real
|