 No programa "Prós e Contras" (RTP1, 2009-04-20) Vital Moreira,
mostrando um gráfico com os grupos políticos do Parlamento Europeu,
afirmou que o Bloco pertence ao "grupo dos partidos comunistas associados, ao qual o Bloco de Esquerda estranhamente se resolveu associar".
Acontece que o Bloco de facto não pertence ao "grupo dos partidos
comunistas associados". E, já agora, esclareça-se que o PCP também não
pertence a esse grupo, pela simples razão de que esse grupo não existe.
Se
Vital Moreira se desse ao trabalho de ler a legenda inscrita no gráfico
que exibiu, poderia informar-se sobre o grupo que estes deputados
integram: é o GUE/NGL, grupo da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda
Nórdica Verde.
Compreendemos a confusão de Vital Moreira. De
facto, no "seu tempo", havia no Parlamento Europeu um grupo com uma
designação próxima daquela que referiu: chamava-se "Grupo Comunista e
Afins", um nome horrível, não para os comunistas, mas para os "afins",
designação que encerra (como a de "associados", aliás) uma conotação de
subalternidade ou de secundarização muito pouco dignificante. Mas, na
actual legislatura, esse grupo já não existe. Vital está, pois,
desactualizado.
Mas talvez "desactualizado" não seja a palavra
certa para classificar Vital Moreira. Porque há dez anos, quando se
criaram os grupos resultantes das eleições de 1999, também não foi
formado tal grupo. E já em 1995, consta dos registos do PE o grupo da
Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Nórdica Verde. Vital não está
desactualizado, está completamente ultrapassado. Mas podemos continuar
a recuar no tempo. Em resultado das eleições de 1989 foi formado um
grupo chamado Coligação de Esquerda. Só mesmo antes de 1989 é que
podemos encontrar o tal Grupo Comunista e Afins.
O quadro de
referência política de Vital Moreira tem, pelo menos, duas décadas de
atraso. E não são duas décadas quaisquer, sobretudo para as
reconfigurações da esquerda. Lembremo-nos apenas que 1989 é o ano da
queda do Muro de Berlim, o marco mais simbólico do desmoronamento dos
regimes do Leste europeu, facto que não é obviamente alheio à
recomposição de todas as forças de esquerda e também, consequentemente,
do grupo parlamentar no PE.
Vendo a esquerda através das suas
velhas referências pré-queda do Muro, Vital Moreira não conseguirá
perceber o que se passa à sua volta. Nem em Portugal, nem muito menos
na Europa e no Parlamento Europeu, onde vai ter de conviver com muitas
e diferentes esquerdas, cujas referências e percursos políticos nada
têm a ver com a caricatura que tentou passar na RTP. A visão de Vital
Moreira sobre as esquerdas na Europa não está desactualizada, é antes
uma visão arcaica de um mundo que já não existe.
Renato Soeiro
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