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Dono dos CTT financiou o Chega Imprimir e-mail
10-Jan-2024

A privatização dos CTT foi feita pelo governo do PSD e CDS quando André Ventura ainda estava no PSD a apoiar Passos Coelho. Saldou-se em despedimentos, fecho de estações, perda de cobertura do serviço postal, incumprimento constante dos indicadores(link is external) de qualidade(link is external) do serviço, venda de património e na descapitalização da empresa. Entre 2012 e 2019, sob a direção de Francisco Lacerda, a administração privada distribuiu em dividendos aos acionistas um valor superior aos lucros gerados pelos Correios no mesmo período.

O maior acionista privado dos CTT foi até há pouco tempo Manuel Champalimaud, através da sua holding. Nos últimos anos o grupo espanhol Indumenta Pueri, fundado pelo milionário Domínguez de Gor, adquiriu 14,99% do capital dos Correios, ultrapassando assim os 13,73% que a Manuel Champalimaud SGPS continua a deter. A gestão do grupo é controlada em acordo entre os maiores acionistas e liderada por João Bento, o gestor que integrava a comissão executiva da holding de Champalimaud antes de se transferir para os CTT em 2017 e assumir a liderança dois anos depois.

Em entrevista ao Expresso(link is external) em 2019, Champalimaud justificou a perda de confiança em Francisco Lacerda com a resposta "mais tímida do que gostaria" às acusações do Bloco de Esquerda de que a administração estava a saquear a empresa. Na mesma entrevista, disse ainda que "se o Estado quiser entrar no capital dos CTT, por mim é bem-vindo", por entender ser "uma maneira de todos saírem a ganhar".

Em dezembro desse ano, na sequência de petições de sindicatos e cidadãos, o Parlamento discutiu propostas do Bloco, do PCP e do PEV no sentido de recuperar os CTT para a esfera pública. O PS e a direita chumbaram-nas e André Ventura optou por não intervir no debate. 

Em outubro de 2020, a nacionalização dos CTT voltou ao debate parlamentar pela mão dos mesmos três partidos, desta vez acompanhados de uma iniciativa do PAN para que o Governo "assegure uma participação determinante do Estado no capital social dos CTT". As propostas foram novamente chumbadas pelo PS e pela direita. A novidade em relação ao anterior debate foi a intervenção de André Ventura a favor da gestão privada: "a verdade, por muito que vos custe, é esta: o número de despedimentos nos CTT diminuiu com a gestão privada", dizia o líder do Chega, anunciando também a renovação da frota automóvel da empresa "em 849 veículos comprados para melhor servir os portugueses". O então deputado único da extrema-direita atacava a esquerda por propor o regresso dos CTT à esfera pública. "Vêm para aqui dizer para gastarmos mais 900 milhões de euros a tornar públicas empresas que estão a funcionar bem", assegurava.

Nos bastidores, a relação entre o maior acionista dos CTT e o partido de Ventura estreitava-se, com Champalimaud a participar em jantares do partido com os seus financiadores privados. Uma investigação da revista Sábado(link is external) ao financiamento declarado pelo Chega identificou Manuel Champalimaud como um dos doadores que ajudaram a encher os cofres da extrema-direita. Mas não estava sozinho na família: o dono da Quinta da Marinha, Miguel Champalimaud, e a esposa Mafalda Champalimaud, entregaram, cada um, ao partido de Ventura o valor máximo permitido por lei. Filhos, sobrinhos e outros familiares também financiaram o Chega. Ao todo, a família Champalimaud entregou ao partido de Ventura mais de 22 mil euros só em 2021.

 
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