25 de Abril
20-Abr-2010

luis_ribeiro.jpgÉ 25 de Abril, aquele dia em que findou a ditadura, ou então é apenas feriado. Os feriados, mais do que dias de comemorações e homenagens, são feriados, e um feriado para a maioria das pessoas, é não trabalhar, não apenas por não trabalhar, nem por serem uma cambada de mandrionas, mas porque feriado é como um dia folga, um dia de descanso.

Um descanso físico e psicológico do trabalho, do serem uma máquina inerte, um organismo sem vontade de criar, por serem exploradas, pelo facto do seu trabalho por melhor que seja, pelo tempo que seja, não melhora as suas condições nem das suas comunidades e que apenas enriquece os que se "mexiam" bem. Então, têm o feriado para descansar. E como é bom descansar!

Ter tempo para a família e para elas próprias, isto assim que despachem aquelas compras que ainda não houve tempo para fazer, assim que tratem daquele problema no carro, assim que tratem daquela questão do empréstimo, assim que tratem da casa, dos filhos e assim que despachem tudo o que falta, porque amanhã é dia de trabalho. Assim descansam e gozam a vida, da mesma forma que lhes é pago apenas o mínimo para sobreviverem e poderem continuar a serem exploradas. Contra esta exploração ao longo dos tempos, os trabalhadores e as trabalhadoras lutam e aspiram por uma mudança social. Mas não foi isso o 25 de Abril, o dia em que essa mudança social ia acontecer?

A 25 de Abril de 1974, os militares cansados do longo caminho que a guerra colonial tomava, chefiados pelos jovens Capitães, fartos também do conformismo da alta hierarquia militar, estabelecem um golpe de estado, acabando com uma ditadura de 41 anos. E a este golpe, juntou-se um povo descontente com a guerra, com a política do estado novo, e com as desigualdades sociais, iniciando-se assim uma revolução popular, que visava uma sociedade socialista.

A vontade do povo por mudança era de tal maneira notória na manifestação do 1 de Maio de 1974, que reuniu cerca de meio milhão de pessoas, e nas várias Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA, que até as alas direitistas da sociedade se viram obrigadas a constituírem-se como sociais-democratas e centristas e a proclamarem também eles uma vontade por uma sociedade sem classes.

Trinta e seis anos passados da Revolução de Abril e no centenário da Republica, estaremos ainda à procura do socialismo? E se ainda estamos à procura do socialismo saberemos nós ou as futuras gerações o que é o socialismo? Hoje esse caminho vê-se que não foi trilhado, perdido numa bifurcação qualquer. Neste decorrer, o significado socialismo foi-se deteriorando, agarrando-se a uma forma sem conteúdo, e as gerações vindouras deixarão de ouvir o Abril pelos actores desses dias, ficando essa transmissão e aprendizagem nos livros de história.

A esquerda refez-se para responder à nova realidade sem nunca esquecer o objectivo do socialismo. A direita também o fez, sem esquecer que nunca quis uma sociedade socialista, mas já sem precisar de o parecer, assumindo até publicamente o objectivo da irradiação dessa meta. E então hoje é 25 de Abril e é feriado, o povo não descansa mas esquece.