Bang Bang Club |
07-Fev-2011 | |
O “acidente” com João Silva relembra-nos a resiliência do conflito no Afeganistão, que pacientemente somos instruídos a ver de cócoras. Um prémio muito caro para a coluna do nosso governo, cúmplice de uma política de agressão sem espinhal dorsal, nem fim, boiando nos interesses da América e da NATO. A guerra hoje tem miudezas, um soldado ocidental sente que tem algo a perder, os generais não furam ninguém no paredón se desobedecer; providenciam psicólogos e drogas para neuroses. Os políticos realizam eleições limpíssimas no meio da guerra, e os terroristas inquietam-se com os jogos florais democráticos onde não estão representados e rebentam de indignação. A NATO não surgiu para defender o bloco ocidental à ameaça do Pacto de Varsóvia, em 1949, pois os países do pacto assinaram o tratado em 1956. A constituição da NATO serviu os interesses económicos americanos do pós segunda guerra mundial, e uma reconstrução vigiada da Europa. Quando o bloco oriental caiu, naturalmente todos equacionavam que ambos os tratados se dissolvessem. O colapso da velha ordem trouxe à NATO uma bolha, como se logra dizer, para explorar um admirável mundo novo. Redesenharam-se países nos Balcãs, instalaram-se novas bases no leste, cativaram-se novos países, aumentou o orçamento público com a defesa, e surgiram os novos inimigos. Um dia a bolha rebentará, quando o mundo ocidental for seriamente infecto por esta doutrina. Pode não ser com guerra, ou atentados, mas através do sequestro dos nossos direitos cívicos. Temos que inverter as prioridades, ou é preciso verter-se mais sangue para ver isso? O perigo agora, para a NATO, é a periferia; na Somália, nos jazigos de petróleo da Nigéria; a pobreza e o subdesenvolvimento na África subsariana; os estigmatizados estados falhados; há medos que é preciso escudar com barreiras antimíssil nas fronteiras Russas; e o Cáucaso, palco de guerra em 2008 na Geórgia. Mas afinal onde está o inimigo? É Bin Laden!? As desigualdades sociais e o desemprego são um inimigo da sociedade mais sério do que os ataques de pânico da NATO. Os políticos e os militares desviam os problemas da sociedade para os antípodas. E a França, com batalhões no Iraque e Afeganistão, mas com uma guerra civil latente nos dormitórios das grandes cidades, com confrontos diários entre imigrantes e juventude e a polícia. Passaram 9 anos de guerra no Afeganistão. Afinal no Iraque não havia nem um fio de urânio, e no Afeganistão os daninhos talibãs não foram esmagados como previu George W. Bush e a NATO vai levando devagar a água ao seu moinho, cúmplice de um regime de traficantes de droga. Em Lisboa discute-se as nossas vidas e daqueles que vivem na periferia. O conceito estratégico da NATO também é um problema português, contraímos dívida com submarinos (1000 milhões de euros), destacamos onerosas tropas para o Afeganistão e arcamos com os gastos da cimeira, 10 milhões de euros. Portugal já faz parte dos danos colaterais. Os sacrifícios do PEC alimentam o negócio da guerra e vão inexoravelmente para a goela do novo conceito estratégico da NATO. Combater o terrorismo islâmico. Perseguir o tráfico e a pirataria. Actuar em palcos de catástrofe natural. Se fosse só isto, seria um passeio. Há mais, a imposição do sistema antimíssil em todos os países membros; a questão nuclear no Irão; cooperar com a Rússia sem colidir com os seus interesses na Eurásia, manter um confortável arsenal atómico; aumentar a prontidão das forças com mais exercícios bélicos; fazer o pleno de adesões na Europa e equacionar a expansão para fora. A NATO prevê a intervenção à escala planetária para defender os interesses económicos e estratégicos dos membros da aliança, leia-se Estados Unidos da América. O novo conceito estratégico opera-se em estreita ligação entre a segurança e o desenvolvimento uma vez que o destacamento das forças armadas com um plano convencional tem falhado. Concorda com isto? Existe outra visão para resolver os problemas mundiais, se o esforço for partilhado um dia a NATO fará parte dos manuais de história. É preciso podar a NATO, a toda a árvore chega a altura. É preciso legitimar o humanitarismo através da ONU e impedir que ele aconteça sem fim com políticas vazias e discursos de medo. Primeiro no Kosovo e por último com a invasão do Iraque a ONU foi esquecida. Adulterar a missão da ONU através da política militarista da NATO é um erro que as gerações de hoje têm que corrigir, pois a geração que fundou a ONU morreu e em seu lugar está um sucedâneo ambivalente ou com espírito de cruzado que se acha impoluto ou até menos. |