Os Flavienses e a Austeridade: Uma História de Amor |
23-Jul-2011 | |
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Poderá surpreender como retóricas generalistas que demitem todo o tipo
de responsabilidade objectiva, do género “é inevitável” e “vivemos acima
das nossas possibilidades”, se incrustaram nas mentes dos flavienses.
Afinal de contas, falamos de uma terra persistentemente prejudicada em
estratégias de desenvolvimento nacionais/regionais e sistematicamente
secundária nas prioridades de investimento. Com elevados níveis de
desemprego, declínio e envelhecimento demográfico, uma indústria local
fragilizada, um sector turístico anémico e um baixo PIB per capita, é
difícil encontrar razões que expliquem a esmagadora adesão nestas terras
à política de austeridade delineada pelos líderes e partidos políticos
que integram o Partido Popular Europeu.
Nós, flavienses, somos generosos. Colocamos convicções alheias do que é
melhor para o país acima do nosso próprio bem-estar, conseguindo
dissociar aquilo é indissociável. Queremos ser centrais para as
políticas, mas enveredamos por políticas e bandeiras que nos tornam
acessórios. Continuamos sem perceber que o mal do nosso país foram as
assimetrias reforçadas pelo abandono do interior, por opções económicas
que comprometeram o futuro, e por um completo desajustamento na
estratégia de desenvolvimento. Demos carta-branca a privatizações a
preço de saldo, aumento de impostos de bens essenciais, ao
desinvestimento, à contracção do mercado interno, e à expansão da
precariedade e do desemprego.
Os sucessivos governos incompetentes que devastaram as promessas de uma terra rica em património histórico e natural, foram devidamente punidos pelos flavienses. Não liguem a todos os resultados eleitorais das últimas décadas: em casa, nos cafés, nos bares, os dois grandes partidos políticos foram devidamente vilipendiados e insultados. No momento da escolha, no entanto, a balança pende sempre para o mesmo lado. É assim no amor, não existem nunca opções ou alternativas credíveis, mas apenas um sentimento de pertença e lealdade que controla e tolda toda a razão: sejam bem-vindos ao verdadeiro Portugal dos pequeninos. |