CENSOS 2011 – Mais uma prova do interioricídio
12-Set-2011

ariana_meireles.jpgAo entrar no sítio dos Censos 2011 na internet temos imediatamente acesso a alguns do seus resultados estatísticos:

  • Somos 10 555 853 residentes;
  • Constituímos 4 079 577 famílias;
  • Dispomos de 5 879 845 alojamentos em 3 550 823 edifícios;  mais 390 780 edificios que em 2001
  • A População residente cresceu 1, 9%;
  • As famílias apresentam um crescimento de 11, 6%;
  • Os alojamentos e os edifícios cresceram 16, 3% e 12,4%, respectivamente.

Importa olharmos para estes números de forma mais detalhada e fazermos uma análise do nosso distrito. Neste texto, pretendo focar a minha atenção principalmente nos dados sobre a concentração e distribuição da população pelo país. Espero, noutro texto, abordar os restantes dados.

Tendo em conta o mapa nacional é importante ressaltar alguns aspectos. A nível do crescimento da população residente, esta aumentou 1,9%, o que corresponde a mais 199.736 novos residentes. Este crescimento deve-se principalmente à imigração. Sem imigração e dependentes apenas do saldo natural entre nascimentos e óbitos, teríamos apenas um aumento de 17.600 novos habitantes (em 10 anos!). Por sua vez, o saldo migratório, entre os que entraram e saíram do país, é responsável por 182.100 novos habitantes.

O que é importante reter? A nossa população está cada vez mais envelhecida, é um facto, o nosso país não atinge um crescimento sustentado se depender apenas dos nascimentos, os motivos porque isto acontece são variados, não há espaço aqui para os analisar convenientemente, mas muito rapidamente passarão por estes, e outros, falarei aqui de dois: os casais têm cada vez menos condições económicas para criarem os seus filhos por isso optam, cada vez mais, por terem um e com alguma “sorte” dois filhos; a carga horária de trabalho que a profissão exige é cada vez mais pesada, consequentemente, o tempo que sobra para a família é cada vez menor. Já todos ouvimos falar da flexibilização do trabalho e sabemos bem quem a defende e por isso acho curioso quando ouço a direita tão empenhada em defender a família e os seus valores, quando defende políticas que roubam a possibilidade de se criar uma família, de se ter condições, disponibilidade e tempo para estar com esta.

Se fizermos uma análise do crescimento da população pelo território verificamos que foi desigual e que se mantem a concentração no litoral. As maiores taxas de crescimento ocorreram no Algarve (14,0%), Madeira (9,4%), Península de Setúbal (8,9%), Oeste (6,6%) e Grande Lisboa (4,7%). O Grande Porto teve um aumento de 2,0%. Por sua vez, encontramos a tendência mais acentuada de decréscimo da população na Serra da Estrela (-12,4%), Beira Interior Norte (-9,5%), Pinhal Interior Sul (-9,1%), Alto de Trás-os-Montes (-8,3%) e Douro (-7,2%). Estes dois contrastes no território estão imbricados, a desertificação do interior relaciona-se e explica a densificação concentrada no litoral, como afirma o coordenador dos Censos 2011, Fernando Casimiro, “O saldo migratório [internacional] não é suficiente para explicar o crescimento do litoral”.

Olhamos agora para o nosso distrito. Em 10 anos, perdemos 16.545 residentes, o único concelho que viu a sua população aumentar foi Vila Real que tem mais 2262 residentes que em 2001, muitos destes novos residentes, serão certamente pessoas que vieram de outros concelhos do distrito com ainda menos oportunidades que Vila Real. Esta perda nacional de população e a desertificação da nossa região deve-se fundamentalmente às políticas que os sucessivos governos têm aplicado. Continuamente ignoram as dificuldades que as regiões do interior enfrentam, agravadas agora com esta crise. O sofrimento dos vitivinicultores, que bem há pouco tempo assistimos nas ruas do Peso da Régua - ouviu-se “há fome no Douro”! - é um bom exemplo de como a população na nossa região tem vindo a sobreviver com cada vez mais dificuldades e é já em desespero que os agricultores do Douro saíram à rua pra se fazerem ouvir e saírem da escuridão do interioricídio a que os querem votar.